Artes/cultura
27/04/2021 às 13:00•2 min de leitura
Quando visitantes chegam às galerias de arte egípcia do Museu do Brooklyn, nos EUA, são às vezes abordados pelo próprio curador sênior de arte egípcia, clássica e do antigo Oriente Médio, Edward Bleiberg, que lhes dirige uma pergunta digna daquela feita pela Esfinge: “por que os narizes das estátuas estão quebrados?"
Fonte: Getty Images
Ele próprio se surpreendeu nas primeiras vezes que se deparou com a questão. A primeira suposição é de que as peças estariam quebradas e, como o nariz é a parte mais proeminente, ficaria mais exposto. Mas, como explicar então algumas representações pictóricas bidimensionais em murais, com seus narizes igualmente eliminados?
O assunto deu margem a diversas suposições e até mesmo a uma afirmação de que os colonialistas europeus haviam destruído os narizes de propósito para apagar as raízes africanas dos antigos egípcios. Embora esta explicação tenha sido descartada, o fato é que uma investigação revelou que os narizes haviam, sim, sido deliberadamente destruídos.
Fonte: GettyImages
A resposta mais confiável veio da palavra de origem grega “iconoclastia” que etimologicamente significa “quebrar imagens”. Na cultura egípcia a motivação para se destruir uma estátua era a crença de que as imagens poderiam abrigar um poder sobrenatural, segundo Bleiberg.
Para os egípcios, não apenas os deuses habitavam nas imagens, mas também os humanos que tinham morrido e que, após uma longa e difícil jornada até o esperado Salão da Dupla Verdade, conseguiam demonstrar sua pureza no Julgamento da Alma e tornar-se seres divinos.
Fonte: The Metropolitan Museum of Art/Divulgação
De acordo com Bleiberg, "à parte danificada do corpo não é mais capaz de fazer o seu trabalho". Dessa forma, as mutilações a estátuas não eram meros atos de vandalismo, mas buscavam restringir o poder, ou seja, se você quisesse evitar que as pessoas representadas fizessem oferendas aos deuses, você poderia remover o braço esquerdo, que é o utilizado para tal tarefa.
Mas se o seu objetivo fosse cortar radicalmente qualquer comunicação entre o ser e a divindade, a melhor forma é destruir o nariz, pois sem ele o espírito-estátua para de respirar, de forma que o vândalo o estaria "matando", pois o nariz era considerado a fonte do fôlego da vida, diz Bleiberg.