Ciência
28/04/2021 às 08:00•3 min de leitura
A Cetoacidose Diabética (CAD) é a complicação potencialmente mortal que geralmente acontece entre pessoas portadoras da diabetes do tipo 1, embora também possa acontecer em outros tipos. Ela ocorre quando há uma falta crítica de insulina no corpo, que começa a liberar produtos químicos chamados "cetonas" no organismo ao não poder usar o açúcar para obter energia, passando a utilizar a gordura em seu lugar. Se não for controlada a tempo, as cetonas acabam se acumulando e tornando o sangue ácido, por isso o termo "acidose".
A década de 1920 foi marcada por índices extraordinários de crianças morrendo de CAD. Elas eram mantidas em enfermarias grandes, geralmente com 50 ou mais pacientes, em sua maioria em coma devido às complicações da doença. Muito embora não haja uma taxa precisa do quanto a doença devastou desde 1900, estima-se que cerca de 100 mil crianças menores de 15 anos morriam por ano no mundo.
(Fonte: My Hero Project/Reprodução)
Naquele mesmo ano, os cientistas já haviam conseguido identificar um grupo de células chamadas "ilhotas pancreáticas" no pâncreas, que são responsáveis por produzirem insulina no organismo. Eles descobriram que essas são as células destruídas pela diabetes do tipo 1, portanto tentaram extraí-las do pâncreas, mas sem sucesso.
Em outubro de 1920, o cirurgião canadense Frederick Banting leu um artigo em que era sugerido que as células produtoras de insulina no pâncreas se deterioram mais lentamente dos que outros tecidos do órgão. Benting chegou à conclusão de que isso poderia permitir a remoção da insulina quebrando o pâncreas de um jeito que as células produtoras permanecessem intactas.
Em 7 de novembro de 1920, Banting se reuniu com seu assistente Charles Best e o professor John Mcleod, da Universidade de Toronto, para que pudessem testar a teoria em cães – uma vez que os médicos alemães Oskar Minkowski e Joseph von Mering haviam descoberto que os cães desenvolviam diabetes grave e fatal quando tinham o pâncreas removido.
John Mcleod. (Fonte: National Library of Medicine/Reprodução)
Eles amarraram o ducto pancreático do animal para matar as outras substâncias ácidas que destruiriam a insulina, mas fazendo o máximo para preservar as ilhotas. Então, eles levaram a solução extraída para que fosse administrada em outros cães que não produziam a própria insulina porque tiveram o pâncreas removido para avaliação dos efeitos dos níveis de açúcar no sangue.
Em seguida, eles se juntaram ao bioquímico James Collip para que a solução de insulina fosse purificada e se tornasse segura o suficiente para testes em humanos. Com a ajuda do homem, foi desenvolvida a forma mais concentrada e pura do medicamento, só que desta vez retirada do pâncreas do gado.
(Fonte: The Lancet/Reprodução)
Assim que ficou pronta, Banting e Best injetaram a substância em si mesmos, após avaliaram que houve uma queda significativa do açúcar no sangue dos animais testados. De acordo com o que escreveram no Canadian Medical Asssociation Journal, em 1922, a solução causou uma redução acentuada do açúcar no sangue, na urina e na quantidade excretada por ela.
Em 11 de janeiro de 1922, os cientistas foram até o Hospital Geral de Toronto, que sofria uma superlotação pela epidemia de CDA, e injetaram a insulina em Leonard Thompson, um menino de 14 anos com um quadro grave de diabetes. Infelizmente, o extrato não se mostrou puro o suficiente, causando uma grave reação alérgica no paciente, e eles tiveram que interromper as injeções.
(Fonte: Diabetic Conquer/Reprodução)
De volta ao laboratório, James Collip trabalhou por 12 dias seguidos, dia e noite, para melhorar o extrato de pâncreas de boi. Mais tarde, ele voltou e reaplicou a injeção no jovem, que apresentou uma melhora significativa em seu quadro clínico crítico em poucas horas.
A partir desse momento, os relatórios observados pelos cientistas provaram que a injeção de insulina controlava completamente a diabetes do organismo se administrada de maneira certa.
Em 25 de outubro de 1923, em reconhecimento à descoberta que salvou milhares de vidas, Banting e Macleod receberam o Prêmio Nobel de Medicina — nada mais justo.