Como o explorador Peter Freuchen foi salvo pelas próprias fezes

06/05/2021 às 12:003 min de leitura

A vida de Lorenz Peter Elfred Freuchen foi uma verdadeira jornada e, de longe, pode ser considerada meramente normal. Ele nasceu em 20 de fevereiro de 1886, em Nykobing Foster, na Dinamarca, filho de Anne Petrine Frederikke e do empresário Lorentz Benzon Freuchen. O seu pai foi o responsável por insistir que ele tivesse uma estabilidade financeira na vida, por isso o fez se matricular na Universidade de Copenhague para cursar Medicina.

No entanto, não demorou muito para que Freuchen percebesse que ele não era um homem que poderia se resumir a quatro paredes. Ele queria explorar o mundo e precisava de doses de perigo e aventura em sua vida para poder sobreviver.

Em 1906, Freuchen embarcou em sua primeira jornada pelo mundo junto com o seu amigo Knud Rasmussen, rumo à Groenlândia.

Peter Freuchen. (Fonte: TMACTION/Reprodução)Peter Freuchen. (Fonte: TMACTION/Reprodução)

Foi nesse ínterim que o homem acabou se apaixonando por Navarana Mequpaluk, uma inuíte com quem teve 2 filhos. Eventualmente, sua esposa acabou falecendo de gripe espanhola e, por ser indígena e não ter se convertido ao cristianismo em vida, a Igreja se recusou a enterrá-la. Após realizar seu funeral por conta própria, Freuchen desenvolveu um sentimento de revolta e declarou que a instituição religiosa só sabia mandar missionários despreparados para entrar em contato com os nativos.

Motivado por essa inconformação, ele e Rasmussen estabeleceram um entreposto comercial em Cape York (Groenlândia) e o batizaram de "Thule", inspirado no termo "Ultima Thule" que, para um cartógrafo medieval, significava "um lugar além das fronteiras do mundo conhecido". O local serviu como base para 7 tipos de expedições, conhecidas hoje como Expedições Thule, que aconteceram entre 1912 e 1933.

Admirável sobrevivente

(Fonte: The Paintbox Garden/Reprodução)(Fonte: The Paintbox Garden/Reprodução)

Entre 1910 e 1924, Freuchen morou com o povo inuíte polar, aprendeu o idioma local e os acompanhou em expedições de caça. Também deu palestras aos visitantes de Thule sobre a cultura, antes de embarcar em uma viagem pela Groenlândia, em locais do Ártico que nunca haviam sido explorados pelo homem. A primeira expedição foi para provar a teoria do americano Robert Peary de que um canal dividia a Groenlândia e a Terra de Peary, uma península ao norte do território dinamarquês autônomo que se estende até o oceano Ártico.

A viagem se tornou uma jornada de mais de 900 quilômetros através do deserto congelante que quase tirou a vida de Freuchen – e que ficou altamente famosa pela maneira como ele conseguiu sobreviver ao episódio. No meio da expedição, Freuchen foi atingido por uma nevasca mortal e teve que se proteger do frio cortante sob o trenó puxado por cães que o transportava através da terra congelada.

(Fonte: Pinterest/Reprodução)(Fonte: Pinterest/Reprodução)

O resultado foi que o explorador acabou soterrado em alguns metros de neve, em uma espécie de caverna que se formou ao seu redor e sobre o trenó. Naquela ocasião em específico, ele não carregava suas adagas e lanças como sempre, então, para conseguir sobreviver, Freuchen teve que fabricar uma adaga com suas próprias fezes congeladas para conseguir cavar o seu caminho para fora do gelo e daquela situação de morte.

Entretanto, assim que conseguiu voltar à base onde foi estabelecido o acampamento, Freuchen descobriu que havia contraído úlcera do frio, que resultou na gangrena de uma de suas pernas. Mais uma vez, ele desafiou a si mesmo e contrariou as possibilidades tendo que fazer o que qualquer outro explorador experiente em seu lugar faria: amputar a sangue frio a própria perna. Após a autocirurgia, para conseguir se locomover, ele substituiu a perna por uma prótese improvisada de madeira.

A segunda jornada

(Fonte: Pinterest/Reprodução)(Fonte: Pinterest/Reprodução)

Na década de 1920, quando voltou à Dinamarca, Freuchen se afiliou ao movimento social-democrata e se tornou colaborador regular do jornal político Politiken, entre 1926 e 1932. Ele foi também editor-chefe da revista Ude of Hjemme, propriedade de Mdgalene Vang Lauridsen, sua segunda esposa.

Aparentemente, depois de anos de aventura, o homem parecia ter se estabilizado, tanto que até se envolveu com a indústria do cinema, contribuindo para o filme Eskimo, estrelado por Ray Mala, baseado nos livros que ele mesmo escreveu sobre suas jornadas pelo Ártico, e que venceu o Oscar de Melhor Montagem em 1933. 

(Fonte: Definition/Reprodução)(Fonte: Definition/Reprodução)

Quando a Segunda Guerra Mundial se ergueu em todo o mundo, com as falas eugênicas e antissemitas de Adolf Hitler, Freuchen se envolveu ativamente com a resistência dinamarquesa e lutou contra ocupação nazista no país. Ele foi tão antifascista que o próprio Hitler o enxergou como uma ameaça, ordenando que ele fosse preso e condenado à morte. Freuchen foi capturado na França, mas felizmente conseguiu escapar dos nazistas e fugir para a Suécia.

Em 1945, ainda se escondendo da fúria do Terceiro Reich, o explorador conheceu o ilustrador de moda judeu-dinamarquês Dagmar Cohn, com quem se mudou para Nova York. Lá, ele se juntou ao New York Explorer’s Club, onde uma pintura sua ainda está pendurada na parede entre os bustos de animais exóticos e selvagens.

Esse período foi marcado pela vida mais quieta e silenciosa que Freuchen já viveu, tanto que ele só voltou a aparecer para o mundo em 1956, quando ganhou US$ 64 mil no programa de perguntas e respostas The Question sobre o assunto "Os Sete Mares".

No ano seguinte, Peter Freuchen morreu aos 71 anos, apenas 3 dias depois de terminar sua última obra, o Livro dos Sete Mares, onde resumiu a de um homem que sempre se recusou a se acalmar.

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