Artes/cultura
28/09/2021 às 13:00•2 min de leitura
Por 375 anos, a Zelândia, atualmente considerada como o oitavo continente do planeta, esteve escondida às vistas de todas as pessoas, e hoje seus maiores segredos continuam submersos em pouco mais de dois quilômetros de profundidade. O que por séculos era visto como uma utopia supostamente existente no Hemisfério Sul, logo revelou-se como “mãe” de uma série de ilhas, que agora correspondem apenas a 6% da antiga extensão total.
A exploração sobre a desconhecida região do globo começou por volta de 1642, quando o marinheiro holandês Abel Tasman iniciou uma missão para confirmar uma antiga crença europeia. Segundo as lendas, uma massa de terra, posteriormente chamada de Terra Australis, contrabalanceava a Europa no sul e indicava uma grande faixa territorial habitável que seguia escondida.
Tasman zarpou em 14 de agosto de Jacarta, na Indonésia, em direção à Nova Zelândia, mas conflitos com tribos maoris e embates contra tripulações holandesas resultaram no fracasso total da expedição, com o explorador retornando para casa sem sequer ter posto os pés em terra firme e anunciando a desistência de encontrar a massiva faixa de terra. Logo, a Zelândia voltaria a ser esquecida e novas pistas surgiriam apenas 250 anos depois.
Em 1895, o naturalista escocês Sir James Hector, que participou de várias explorações na porção sul da Nova Zelândia, identificou os primeiros sinais de existência do continente ao realizar estudos geológicos. Segundo o pesquisador, a ilha seria “o resquício de uma cadeia de montanhas que formava a crista de uma grande área continental que se estendia ao sul e a leste, e que agora está submersa...”.
(Fonte: Live Science/Reprodução)
Novos avanços no estudo ocorreriam apenas na década de 1960, quando o termo “continente” ganhou classificação e definição por especialistas da área. De acordo com Nick Mortimer, geólogo do GNS Science, um continente seria um território de grande elevação, grande variedade de rochas e crosta espessa que “não pode ser simplesmente um pedacinho”, ou seja, tem que ser grande.
Por volta de 1995, quando o continente foi oficialmente chamado de Zelândia por Bruce Luyendyk, a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar entrou em vigor, afirmando tratados sobre mar territorial, zona econômica exclusiva, plataforma continental e outros, estabelecendo os princípios gerais da exploração dos recursos naturais e criando o Tribunal Internacional do Direito do Mar.
Dessa forma, especialmente após a análise de dados de satélite, a Zelândia tornou-se oficialmente visível e revelou ter 94% de sua área submersa, sem desrespeitar todas as principais convenções formalizadas pelo Tribunal.
Originalmente, a Zelândia era parte do antigo supercontinente de Gondwana, formado há cerca de 550 milhões de anos. O tensionamento da terra acabou esticando a Zelândia e a afastando das adjacências, algo que supostamente poderia ter levado os restos mortais do supercontinente e acumulado uma série de animais terrestres fossilizados, como os espécimes encontrados na Nova Zelândia na década de 1990.
(Fonte: National Geographic/Reprodução)
De acordo com Rupert Sutherland, da Victoria University of Wellington (Austrália) encontrar registros fósseis na área é extremamente desafiador, devido à impossibilidade de coletar artefatos no fundo do mar, mas a região seria repleta de vestígios especiais. “Na verdade, os fósseis mais úteis e distintivos são aqueles que se formam em mares muito rasos”, diz Sutherland. “Porque eles deixam um registro — existem zilhões e zilhões de fósseis minúsculos, bem minúsculos, bastante distintivos.”, completa o pesquisador.
Em relação à formação geológica do continente, acredita-se que as placas tectônicas se moveram e deformaram a área, gerando a Falha Alpina e um molde estranhamente curvado, com a aparência de algo retorcido.
“É muito difícil fazer descobertas quando tudo está a 2 km debaixo d'água, e as camadas que você precisa analisar também estão a 500 metros abaixo do leito oceânico. É realmente desafiador sair e explorar um continente como esse. Então, é preciso muito tempo, dinheiro e esforço para embarcar e pesquisar as regiões.”, conclui Sutherland.