Esportes
11/10/2021 às 10:59•3 min de leitura
Em 2012, a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos divulgou dados de que houve mais de 8 mil recordes de temperaturas altas só naquele ano devido a um sistema de alta pressão que se moveu sobre o país entre junho e julho — não é para menos que tudo indicava que o mundo acabaria. Mas não parou por aí.
Em julho de 2018, a NASA anunciou que foi o terceiro mês mais quente desde 1880. Além disso, conforme ressaltou o cientista climático Stefan Rahmstorf, chefe da Análise de Sistema Terrestre do Instituto Potsdam para Pesquisa sobre Impacto Climático, aquele mês provavelmente foi um dos mais quentes desde o período geológico chamado Eemiano, há cerca de 115 mil anos.
A Terra está cada vez mais quente, e desde o século XX que as pessoas sentem as consequências disso de maneira mais abrangente — para não falar insana.
(Fonte: New England Historic Society/Reprodução)
O calor anormal sempre foi normalizado pela sociedade, apesar de a quantidade de avisos de como pode afetar a saúde. Ninguém considera que há algo de muito estranho em pessoas morrendo por simplesmente não aguentarem as altas temperaturas.
Com a invenção do ar-condicionado e ventiladores domésticos turbo, hoje muitas pessoas conseguem sobreviver aos dias escaldantes, mas a realidade era bem diferente em 1896. No começo de agosto desse ano, no nordeste dos EUA, Austrália e Reino Unido, a temperatura subiu, os ventos sumiram, a umidade se manteve em 90% e os termômetros de Nova York marcaram 32,2 °C.
“Nenhuma onda quente que passou pelo país nos últimos anos foi tão intensa ou mais fatal em seus resultados”, relatou o Boston Globe. Em dois dias de mormaço excruciante, as pessoas já estavam morrendo no que ficou conhecido como "um dos piores desastres naturais da história", segundo a New England Historical Society.
(Fonte: Flashbak/Reprodução)
Aqueles que trabalhavam ao ar livre ou próximo de fornalhas foram os primeiros a abandonarem o posto devido ao calor. Em dez dias de duração do calor, foram mais de 1,3 mil pessoas mortas somente em Nova York, e seus cadáveres se decompuseram em menos de 24 horas com a forte temperatura. Nesse ínterim, também 1.258 corpos de cavalos se amontoaram pelas ruas, transformando-as em um cemitério fétido ao ar livre. Quem sobreviveu, não passou um dia sem desmaiar na rua ou em casa com as quedas de pressão e desidratação.
Mas não foi só o calor que matou, a busca por métodos de se refrescar também. Foram várias as pessoas que dormiram do lado de fora de suas casas, em escadas de incêndio dos prédios abarrotados e quentes, o que culminou em centenas de quedas fatais. O mesmo destino encontrou aqueles que dormiram em cais, quando acabavam rolando durante o sono e se afogando nas águas do rio.
(Fonte: Flashbak/Reprodução)
A Austrália também pereceu a olhos vistos com o calor. Após o Bureau de Meteorologia reunir uma série de registros da época, eles se deparam com histórias de pessoas que morreram de calor, hospitais que lotaram de pacientes, plantações inteiras que murcharam, incêndios florestais fora de controle e incêndios residenciais por feno em chamas. Segundo a ABC, o número oficial de mortos no país foi de 435 pessoas ao longo de três semanas, vítimas de uma temperatura que atingiu 38?°C.
O desiquilíbrio natural já estava tão grande que, em 4 de julho de 1911, as temperaturas na mesma área que atingiram esses países, subiram de modo assassino por mais dez dias.
(Fonte: Flashbak/Reprodução)
Quando a avalanche de calor passou, ela havia tirado mais vidas do que notórios desastres, como o Grande Incêndio de Chicago de 1871, além do rastro de destruição que deixou através de tempestades que queimaram casas até os alicerces.
Mas a história dos EUA, aparentemente, esqueceu esses verões mortais que poderiam ter servido de alerta para o futuro. Em entrevista ao U.S News, o historiador e autor Edward Kohn disse que isso aconteceu porque a maioria daqueles que morreram de calor eram pobres da classe trabalhadora. Ou seja, no final do dia, eles não eram tão memoráveis assim, sobretudo em uma época em que o sofrimento e morte deles era cotidiano.
Além disso, Kohn também acrescentou que não houve um momento grande o suficiente no evento para marcar a história, então tudo o que aconteceu de horrível, quase que instantaneamente, perdeu sua relevância.