Estilo de vida
24/11/2021 às 06:30•3 min de leitura
A cidade de Maceió, capital de Alagoas, tem sofrido uma enorme crise nos últimos tempos. Devido a um afundamento no solo, bairros inteiros do município foram comprometidos e milhares de vidas foram colocadas em risco. Para se ter ideia, cerca de 55 mil pessoas tiveram que ser removidas de suas casas emergencialmente até o momento.
O fenômeno inclusive deve virar tema de um documentário produzido pelo documentarista argentino Carlos Pronzato, que visitou a região para contar a história das famílias afetadas por rachaduras e o afundamento do solo, o que acabou sendo considerado a maior tragédia geológica já registrada no País. Entenda o caso!
(Fonte: Igo Estrela/Metrópoles)
Em 3 de março de 2018, a capital alagoana vivenciava mais uma tarde chuvosa de verão quando a terra começou a tremer por cerca de três a quatro segundos. Estrondos muito altos foram ouvidos ao redor do Lago Mundaú e diversos imóveis sofreram algumas rachaduras.
De acordo com os geólogos, houve um terremoto de magnitude 2,5 na escala Richter. Até aquele momento o evento não tinha causado qualquer fatalidade e não parecia ter gerado grandes consequências. Porém, tudo acabou mudando três anos mais tarde, quando o município passou a observar mudanças estruturais.
Segundo os estudos feitos pelo Serviço Geológico Brasileiro, o chão de Maceió já estava cedendo muito antes do tremor — que contribuiu para a aceleração do processo. Durante esse meio tempo, casas, prédios e ruas já haviam rachado por conta do colapso de cavernas subterrâneas das 35 minas de sal exploradas pela petroquímica Braskem no subsolo da área urbana da capital.
(Fonte: Jonathan Lins/G1)
A Braskem, que tem como sócios a Odebrecht e a Petrobras, nunca chegou a reconhecer oficialmente a culpabilidade pelo que vem acontecendo em Maceió. Entretanto, a empresa já concordou em pagar mais de R$ 12 bilhões para indenização de moradores e comerciantes, além de ajudar na realocação de escolas e hospitais, como também no financiamento de ações que minimizem o drama causado pelo afundamento.
O acordo foi traçado em janeiro de 2020 entre a Braskem e a força-tarefa formada pelos Ministérios Públicos Federal e Estadual e Defensorias Estadual e da União. Entretanto, o andamento do processo não tem agradado a todos. Os comerciantes alagoanos alegam não ter participação nas negociações e que o pagamento das indenizações está ocorrendo de maneira lenta.
O desastre se soma à crise criada pela pandemia de covid-19, o que culmina em muitas pessoas sendo deixadas em situação de risco. Por conta disso, muitos dos habitantes locais têm tido dificuldade em saber como dar andamento aos seus negócios e famílias foram deixadas sem muito amparo.
(Fonte: Igo Estrela/Metrópoles)
A cada dia que passa, mais regiões são incluídas na chamada área de risco do afundamento do solo. Em setembro, 13.871 dos 14.402 imóveis com recomendação para desocupação haviam sido evacuados, exceto por aqueles com moradores mais resistentes e que estão se arriscando a viver em um “cenário de guerra”.
Porém, a tendência é que esse número só aumente daqui para frente. Inicialmente, os habitantes do bairro Mutange, na beira da lagoa, foram os primeiros a ser removidos. Segundo os dados da prefeitura, os bairros de Bebedouro, Pinheiro, Bom Parto e parte do Farol devem ser os próximos nesse caminho.
Sem acesso a comércio ou serviços públicos, os bairros Flexal de Cima e de Baixo acabaram sendo “isolados socialmente” e tiveram que pagar a conta pelo prejuízo. Essas regiões ainda não sofrem riscos geológicos, mas se encontram em um cenário onde a população está desamparada.
Em meio à tragédia, muitas dessas famílias acabaram ficando sem solução e perderam tudo que construíram ao longo da vida. Bairros fantasmas começaram a “pipocar” ao longo de Maceió pela possibilidade de colapso em algumas regiões e também pela chance de expansão da área de risco.
(Fonte: Leo Caldas/Exame)
Embora a Braskem afirme estar monitorando cada uma das 35 minas de exploração para acompanhar sua evolução e explicou que elas estão sendo fechadas com a técnica mais apropriada para cada uma delas — seja cimento, areia ou rochas —, a cidade de Maceió vive um grande drama.
De acordo com especialistas, a estabilização do solo só deve ocorrer dentro de um período de 10 anos. Enquanto isso, o município precisará encontrar formas para lidar com a situação social das famílias deslocadas pelo fenômeno e como estabilizar a situação econômica de comerciantes que perderam seus negócios e também dos bairros isolados socialmente.
Entretanto, nada deve voltar a como era antes, mesmo após a estabilização. Pesquisadores afirmam que os bairros fantasmas, inutilizados pelo desastre, jamais retornarão a ser habitáveis. A movimentação do solo compromete a estrutura das edificações e pode provocar até mesmo desabamentos. Sendo assim, será necessário um projeto para reabilitar essas regiões com outra finalidade.