Ciência
09/01/2022 às 08:00•3 min de leitura
No dia 22 de fevereiro de 1997, o mundo entrou em frenesi quando o biólogo Ian Wilmut e seus colegas de pesquisa do Instituto Roslin, na Escócia, clonaram com sucesso a ovelha Dolly a partir das células do úbere de uma ovelha. Esse feito não só lançou um olhar para o futuro, tornando possível imaginar bebês humanos clonados e a cura para certas doenças, como também gerou um debate acalorado sobre as controvérsias éticas e riscos para a humanidade com o abuso desse tipo de tecnologia.
A ideia de “só porque podemos, não significa que devemos” foi colocada na mesa pelo poderio científico, fora as questões que permeiam a clonagem, como o fato de ser um procedimento altamente arriscado e imperfeito, se estendendo também para a visão das possibilidades de abusos e servindo como uma espécie de esperança para aqueles que acreditam na seleção eugênica.
Estima-se que 95% das tentativas de clonagem de animais tenham terminado em fracasso, e os cientistas que clonaram Dolly falharam 276 vezes antes de conseguirem produzir um único clone nascido vivo de uma ovelha adulta. E a comunidade científica acredita que o processo de clonagem em humanos resultaria em taxas de falha ainda maiores, isso porque somos criaturas mais complexas e sensíveis.
Mas o que aconteceria se uma clonagem humana desse certo?
(Fonte: Geneng News/Reprodução)
Um clone humano não seria idêntico, visto que clones não são cópias exatas, na prática. Isso porque, até que crescesse, você estaria velho o suficiente para não parecer uma cópia. Mas, geneticamente falando, isso aconteceria devido à expressão gênica. O DNA compatível não significa um desenvolvimento compatível, visto que o meio ambiente desempenha um grande papel na forma como um organismo se desenvolve.
Um estudo de 1999 publicado na revista médica The Lancet pelo National Center for Biotechnology Information, salientou que, além de um clone não ser idêntico, ele também poderia nascer deformado a ponto de ser monstruoso. Na pesquisa, eles colocam um clone de bezerro como exemplo, mostrando que o processo de clonagem parecia ter interferido o funcionamento genético normal do animal.
(Fonte: Bangalore Next/Reprodução)
Os pesquisadores também notaram que, além da tendência de os clones morrerem pouco antes ou logo após o nascimento, o processo pode causar anormalidades a longo prazo. O bezerro deformado, por exemplo, morreu apenas 7 semanas depois que nasceu, vítima de anemia severa. Os cientistas descobriram durante a autópsia que o sistema linfático do animal havia falhado quase completamente em se desenvolver.
Em uma entrevista de 2001 para a Times, pesquisadores alertaram que embora a clonagem copie o DNA com exatidão, a expressão do gene é afetada diretamente, com erros aleatórios que podem surgir a qualquer momento, visto que o procedimento exige que um óvulo se reprograme em minutos ou, no máximo, em horas. E ainda que o clone consiga sobreviver ao nascimento e à infância, alguma coisa pode dar terrivelmente errado a qualquer momento.
(Fonte: Creation Ministries International/Reprodução)
Se um cientista conseguisse clonar com sucesso um ser humano, além de ser condenado e preso, ele, a princípio, seria acusado de fraude. Em 2004, por exemplo, um cientista sul-coreano publicou um artigo na revista Science afirmando que havia clonado embriões humanos através de células-tronco. No ano seguinte, ele alegou que esses embriões foram criados a partir da combinação de óvulos e uma variedade de outras células corporais, mas tudo não passava de uma farsa.
Em 2006, Panayotis Zavos, um médico de fertilidade, disse ter implantado embriões clones em 5 mulheres diferentes e, 3 anos depois, em seu “laboratório secreto” no Oriente Médio, ele virou tema de um documentário do Discovery Channel por implantar mais 11 embriões em 4 mulheres.
A história toda só foi desmascarada no ano passado, quando uma mulher identificada como Diane White acusou o médico de implantá-la com seu próprio esperma quando foi até sua clínica de fertilidade em 1998, localizada no Kentucky. Nos autos do processo movido pela vítima, o advogado alegava que Zavos não tinha diploma de medicina, tampouco uma licença. O teste de DNA confirmava que ele é o pai do filho de White.
(Fonte: Business Insider/Reprodução)
Fora todas essas questões que o cientista teria que lidar, existe também a possível avalanche de famílias enlutadas querendo seus entes queridos de volta, como aconteceu em 1996 após a clonagem de Dolly. Na época, os pesquisadores foram bombardeados com pedidos de milhares de pessoas para replicar seu processo científico em cadáveres.
No final das contas, embora vários cientistas aleguem ter decifrado o código de clonagem humana desde o final da década de 1990, nenhum dos fatos confirmam essas afirmações.