Ciência
02/05/2022 às 13:00•2 min de leitura
Foi em 16 de junho de 1963, partido do Cosmódromo de Baikonur, no sul do Cazaquistão, território da então União Soviética, a bordo da nave Vostok 6, que a cosmonauta soviética Valentina Tereshkova se tornou a primeira mulher a viajar para o espaço, orbitando a Terra por 48 vezes, ficando 2 dias 22 horas e 50 minutos fora do planeta.
Desde o início da Corrida Espacial, que promoveu eventos inéditos como o de Tereshkova, apenas 566 humanos viajaram para o espaço, dos quais 11,5% deles eram mulheres, segundo dados da NASA em uma matéria da BBC.
Após o voo da Vostok 6 com a soviética, levou 19 anos até que outra pudesse deixar a Terra novamente. Por muito tempo, nos Estados Unidos, as mulheres foram excluídas sob a desculpa de que astronautas precisavam ser pilotos de testes militares, sendo que se tratava de uma época em que as mulheres não eram associadas à inteligência científica e tecnológica.
Valentina Tereshkova. (Fonte: European Space Agency/Reprodução)
Já no século XXI, as mulheres ainda enfrentam barreiras na jornada de conseguirem alcançar participação igualitária no espaço, principalmente com questões técnicas consideradas inadmissíveis para a atual tecnologia, como encontrar trajes espaciais suficiente de tamanho médio, como aconteceu em março de 2019 com as astronautas Christina Koch e Jessica Meir.
Para o administrador da NASA, Ken Boersox, o corpo do homem sempre será o ideal para a missão de ser um astronauta, culpando a estatura média feminina, alegando que elas são "incapazes de alcançar as coisas com tanta facilidade quanto os homens".
(Fonte: Space/Reprodução)
"Será que os corpos das mulheres que são um problema, ou o mundo espacial construído para homens e por homens?", observou a professora associada em Arqueologia e Estudos Espaciais da Universidade Flinders, Alice Gorman, em um artigo do The Conversation.
Reflexo disso é que existem bem menos pesquisas e estudos sobre os corpos das mulheres do que dos homens. Ainda que digam o contrário, Gorman ressalta que na microgravidade as mulheres são escolhas ideais, porque a força física e a altura não são vantagens nesse cenário. Além disso, as mulheres consomem menos comida e oxigênio, preservando o peso melhor com dietas restritivas, gerando menos resíduos.
(Fonte: PBS/Reprodução)
Estima-se que os astronautas são expostos a cerca de 600 milisieverts de radiação ao longo de quatro missões de seis meses, o que é 100 vezes mais do que o normal em comparação com quem está na Terra por ano — as pessoas estão expostas a 3,6 mSv de radiação.
Um estudo da NASA mostrou que fatores como idade e sexo podem mudar como a radiação afeta os riscos de câncer no corpo humano. Foi indicado que as mulheres têm duas vezes mais chances de desenvolver câncer de pulmão, por exemplo, do que os homens, o que poderia indicar que a radiação é mais perigosa para elas.
Como resultado, na NASA ainda existem diferentes limites de radiação para astronautas de diferentes sexos, o que significa que as mulheres ficam menos tempo no espaço. Atualmente, a agência americana é a exceção à regra entre as demais agências espaciais, que já propuseram um limite geral mais comum, que não diminui a participação da mulher, nem arrisca demais o homem.
Segundo uma matéria da Science, recentemente a NASA propôs um limite de exposição igualitário de 600 mSv entre os astronautas, chocando alguns especialistas que acreditam que a mudança prioriza a aparência de igualdade sobre a ciência, enquanto outros enxergam como um avanço.