Artes/cultura
23/05/2022 às 08:00•2 min de leitura
Um estudo desenvolvido por geólogos revelou uma descoberta que pode contribuir para a comunidade científica no entendimento sobre a vida nos primórdios do planeta Terra. A coleta aconteceu na Formação Browne, Austrália Central, onde os pesquisadores encontraram pequenas amostras de procariontes — organismos unicelulares de baixa complexidade — e eucariontes — organismos celulares de maior complexidade — relacionados a algas, ambos confinados dentro de cristais de halita que datam 830 milhões de anos.
Halita é um mineral formado tanto a partir da água de lagos salgados como a partir da água do mar e se constitui de cloreto de sódio (NaCl). Conforme matéria da Live Science, os organismos unicelulares estão presos em pequenas bolsas — mais finas que um fio de cabelo — cheias de fluido, que se formaram a partir de rochas sedimentares.
Fonte: Sara I. Schreder-Gomes/Geology
A líder do estudo e geóloga da Universidade da Virgínia Ocidental, nos Estados Unidos, Sara Schreder-Gomes explica que as características dos espécimes foram descobertas por meio do formato, tamanho, cor e fluorescência através de luz ultravioleta. "Esta descoberta mostra que micro-organismos de ambientes salinos podem permanecer bem preservados em cristais de halita por milhões de anos", escreveu, Schreder-Gomes.
Os pesquisadores ainda não puderam determinar precisamente a espécie dos micro-organismos. Contudo, existe grande semelhança com Dunaliella, um gênero de alga comum em lagos salgados.
Para Schreder-Gomes, micro-organismos que gostam de ambientes ricos em sal são bons sobreviventes, com capacidade de entrar em estado de dormência, desativando seu metabolismo, o que faz com que fiquem vivos mesmo na ausência de água.
De acordo com artigo da Live Science, no ano de 2000 cientistas afirmaram ter revivido bactérias de 250 milhões de anos. Entretanto, eles não comprovaram que não houve contaminação com espécies modernas.
Até o momento, as constatações do estudo de Schreder-Gomes foram feitas com base em análises visuais, portanto, os cristais de halita ainda não foram abertos para saber se as algas e procariontes possuem vida ou podem voltar a viver. "Se já foi possível sobreviver 250 milhões de anos, por que não algumas centenas de milhões a mais", disse a geóloga.
A descoberta abre precedentes para estudar a possibilidade de vida extraterrestre. Antes de analisar os minerais os pesquisadores precisaram coletar amostras de solo com profundidades que chegaram a 1.520 metros abaixo da superfície moderna.
A geóloga descreve que a Formação Browne — onde os espécimes foram encontrados — é um aglomerado de rochas com similaridade ao ambiente que existiu nos primórdios do planeta Marte.
Segundo a autora, os métodos utilizados pela equipe de estudos também poderiam ser aplicados na pesquisa de possíveis micro-organismos no planeta vermelho. "Sedimentos antigos, tanto terrestres quanto extraterrestres, deveriam ser considerados como potenciais portadores de micro-organismos primitivos", concluiu Schreder-Gomes.