Artes/cultura
14/07/2022 às 11:00•2 min de leitura
A humanidade usa o álcool há séculos como substância esterilizante e para conservar coisas. No Antigo Egito, por exemplo, por volta de 3000 a.C., o álcool feito com o fermentado de palma era usado tanto na limpeza de feridas quanto no processo de embalsamento de corpos.
(Fonte: Shutterstock)
Mas o que torna o álcool uma das substâncias mais populares e usadas para evitar que materiais orgânicos entrem em decomposição?
O professor de química Bill Carroll, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, um dos especialistas consultados pela reportagem da Live Science, explicou que o poder de conservação do álcool se deve à sua toxicidade. Isto é, determinados tipos de microrganismos que provocariam a decomposição de materiais orgânicos não são resistentes a ele.
Para exemplificar como tudo funciona, Carroll usou uma bebida que a maioria de nós conhece ou já experimentou: o vinho.
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Segundo o químico, a bebida começa a se formar quando a levedura consome o açúcar e excreta álcool e gás carbônico. Conforme as leveduras continuam a crescer, visto que são fungos, e a metabolizar cada vez mais açúcar, o acúmulo de álcool residual gerado se torna tóxico e, eventualmente, causa a morte de suas próprias células.
A maioria das cepas de leveduras consegue tolerar uma concentração de álcool que varia entre 10 e 15% antes de serem mortas. É por isso que boa parte dos vinhos e cervejas possuem teor alcoólico nessa faixa.
Por outro lado, cepas diferentes de leveduras podem tolerar quantidades diferentes de álcool. Isso permite uma maior variação na concentração alcoólica dessas bebidas, e também no sabor.
O vinho faz tudo isso que Carroll explicou com apenas 14% de teor alcoólico. Agora, você se lembra dos vidros cheios de álcool usados nos laboratórios das escolas e museus para conservar bichos e até partes humanas de todos os tipos? Esse tipo de álcool possui uma concentração média de 70%.
Como você já deve ter notado, se existem diferentes concentrações de álcool, também existem diferentes usos. Tudo depende da finalidade que desejamos obter. Podemos até misturar o álcool com outras substâncias para um objetivo específico.
Por exemplo, uma solução composta por 70% de álcool e 30% de água para conservar um espécime qualquer de peixe tem uma dupla ação: o álcool impede o crescimento de mofo e bactérias e os 30% de água garantem que os tecidos do peixe fiquem hidratados, deixando o exemplar com a forma próxima do natural.
O etanol, que também é um tipo de álcool, é muito usado por profissionais que trabalham em museus e laboratórios, já que é mais eficiente para conservação a longo prazo.
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Em uma concentração entre 96% e 100%, ele é considerado um excelente agente de morte para microrganismos e uma solução altamente conservante. Quando combinado de maneira adequada com o frio ele pode preservar o DNA por mais de 100 anos!
Aliás, isso foi confirmado em um estudo de 2013 analisando o uso do álcool em concentrações altas para preservação. A pesquisa apontou que com teor em 95%, o etanol não danifica o DNA. Ainda assim, em uma concentração a 100% ele pode tornar os espécimes quebradiços e quase inutilizáveis para estudos no futuro.
O álcool 70% muitas vezes é o mais usado por ser mais barato e ter uma concentração menos crítica. Além disso, os 30% restantes abrem espaço para outras soluções, a exemplo da situação com o peixe anteriormente.