Ciência
28/08/2022 às 12:00•2 min de leitura
Em 2016, foi criado um dos projetos mais ambiciosos da ciência depois do Projeto do Genoma Humano: o Atlas das Células Humanas. Por meio de uma técnica conhecida como single-cell analysis (análise de células únicas, em português) os pesquisadores envolvidos no projeto pretendem verificar quais genes são ativados em cada célula do nosso corpo a partir do RNA.
De acordo com Lucio Freitas Junior, pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, o que diferencia uma célula da outra no nosso organismo é a forma como cada uma realiza a síntese de proteínas. Assim, através das análises do Atlas será possível compreender melhor o papel que cada célula desempenha no organismo.
(Fonte: Sayo Studio/Science/Reprodução)
Esse mapeamento de células, combinado com poderosos algoritmos computacionais, conseguem decifrar como uma célula difere da outra e interage com células vizinhas. Além disso, será possível entender a localização das células dentro dos tecidos, a identificação dos estados das células (por exemplo, qual a diferença de estado entre uma célula imunológica antes e depois de atacar uma bactéria), traçar os estágios do desenvolvimento celular.
Mais importante, o Atlas e seus dados vão oferecer um recurso aberto para pesquisadores do mundo todo compreenderem como as células se comportam frente a doenças.
Resultados do Atlas já foram usados durante a pandemia. (Fonte: Shutterstock)
Mesmo que ainda esteja em seu início, o projeto do Atlas de Células Humanas já contribuiu com pesquisas relacionadas à pandemia de coronavírus. Pesquisadores ligados ao projeto conseguiram identificar células suscetíveis à infecção pelo vírus, facilitando a compreensão sobre como o SARS-Cov-2 ataca as células.
Além disso, as pesquisas do grupo contribuíram para compreender as diferenças entre as respostas imunes de adultos e crianças aos ataques do coronavírus. Lucio Freitas Junior aponta que com o conhecimento reunido pelo Atlas em relação à covid-19, os pesquisadores não precisam testar individualmente cada célula ou tecido, já que o mapeamento realizado indica quais são os alvos do vírus.
Kits de teste de DNA já são uma realidade. (Fonte: Shutterstock)
Para Daniel Davis, professor de imunologia da Universidade de Manchester e um dos pesquisadores do projeto, os progressos da biologia humana estão evoluindo em uma velocidade sem precedentes. Hoje, por exemplo, já contamos com testes genéticos que podem prever a possibilidade de desenvolvimento de doenças como o câncer. A partir de um conhecimento mais aprofundado das características das células, essas análises podem ser ainda mais aprofundadas.
Davis aponta que no futuro, em talvez 10 anos, uma nuvem de informações sobre nossa saúde estará disponível, incluindo dados sobre nossas células. Assim, ao consultar um médico, ele poderá ter acesso às informações das células e diagnosticar um possível problema com mais precisão com um simples exame de sangue.