Patinho Feio: o primeiro computador brasileiro

23/10/2022 às 09:003 min de leitura

O Statista mostrou que em 2012, cerca de 342 milhões de computadores foram enviados para o mundo todo, sendo que é estimado que esse ano haja uma queda para 310 milhões, figurando 9,5%, devido à alta inflação e as interrupções na cadeia de suprimentos.

Desde que o professor de física John Vincent Atanasoff e seu aluno de pós-graduação, Clifford Berry, construíram o primeiro computador digital eletrônico moderno do mundo em 1942, no Iowa Ste College, os computadores se tornaram as máquinas mais importantes e avançadas do mundo. Foi graças ao equipamento que a exploração espacial se tornou possível, o entretenimento se transformou em uma indústria bilionária, e a ciência conseguiu combater e estudar todos os tipos de doenças para prevenir a humanidade ou alcançar alguma cura.

A década de 1970 ficou marcada pela comercialização em massa dos computadores de uso pessoal, com as empresas entrando em uma verdadeira corrida para decidir qual seria a primeira a fazê-lo. Enquanto isso, em 24 de julho de 1972, um grupo de 12 formandos, incluindo Edith Ranzini, Edson Fregni e Célio Ikeda, do então Laboratório de Sistemas Digitais da Universidade de São Paulo – atual Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais –, lançaram o Patinho Feio, primeiro computador brasileiro.

A iniciativa que mudou tudo

(Fonte: G1/Reprodução)(Fonte: Jorge Maruto, Journal do USP/CCS)

Em 1970, quando a Marinha pediu para que os engenheiros da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) construíssem um computador nacional para ser utilizado em seus navios, os engenheiros da USP já projetavam o seu.

O nome Patinho Feio foi uma brincadeira, visto que o computador da Unicamp se chamaria Cisne Branco, mas a alcunha acabou pegando. De qualquer forma, o computador da Unicamp acabou não dando certo, e o G10, sucessor do Patinho Feio, seria o escolhido para os sistemas de navegação marítimo.

Apesar da pouca memória, apenas 4kb, o Patinho Feio pesava cerca de 60 quilos, e tinha o tamanho de dois frigobares – o do lado esquerdo era a fonte de alimentação, e o outro era o composto funcional da máquina, que totalizava 1 metro de altura e de largura. Ela também era composta por 45 placas de circuito impresso, possuía 8 bits e operava em linguagem assembly.

(Fonte: Jornal da USP/Reprodução)(Fonte: Kenji/AE)

O computador era controlado por um painel com botões e chaves que enviavam códigos binários para fazer funcionar pequenos programas. Os aparelhos que eram conectados à máquina – os sistemas periféricos –, serviam para salvar e iniciar os programas, armazenados em fitas perfuradas impressas em teletipo (uma espécie de máquina de escrever que enviava e recebia mensagens por telégrafo), que seriam lidas por uma máquina e executadas.

A pouca memória do Patinho Feio permitiu que rodasse apenas programas de demonstração, seguisse instruções para criar listas, copiar textos, e realizar contas de soma e subtração. Contudo, o objetivo dele nunca foi ser avançado, mas demonstrar o que os engenheiros haviam aprendido nas aulas de Engenharia da Computação da Poli-USP para que pudessem desenvolver outros equipamentos na indústria ou até mesmo aprimorá-los.

E foi exatamente o que aconteceu.

O "petróleo" do Brasil

(Fonte: Poli-USP/Reprodução)

(Fonte: Kenji/AE)

Ao longo de 8 anos, o Patinho Feio foi o responsável por auxiliar em pesquisas na área de sistemas digitais e no treinamento de professores e alunos de graduação dos cursos da EPUSP. Após o marco que foi seu lançamento, o grupo de engenheiros se dedicaram a produzir o G10 para que fosse usado pela Marinha.

O G10 serviu como a base para o primeiro computador comercial brasileiro, chamado MC 500 e fabricado pela Cobra (Computadores e Sistemas Brasileiros), por todo o conhecimento obtido previamente com o Patinho Feio, que se tornou útil na mão dos pesquisadores, serviu bem nos sistemas de controle de trens, apoio a motoristas em rodovias e na central telefônica.

Além disso, o Patinho Feio foi o pontapé inicial que o Brasil precisava para entrar no mercado nacional no segmento de mini e microcomputadores, em 1976, iniciada a partir de uma resolução da CAPRE (Comissão de Coordenação das Atividades de Processamento Eletrônico), um órgão vinculado à Secretaria de Planejamento da Presidência da República.

Isso era o processo que fazia parte da forte iniciativa de desprendimento tecnológico estrangeiro, com o fechamento ao mercado dos produtos de informática importados, que havia começado no final da década de 1960 e início de 1970, com o Brasil produzindo nacionalmente dispositivos semicondutores e circuitos integrados. Foi assim que surgiram laboratórios, como o de Microeletrônica da Politécnica (LMI), da USP, e o Instituto de Microeletrônica do CTI, em Campinas, São Paulo.

(Fonte: Guia dos Curiosos/Reprodução)(Fonte: Guia dos Curiosos/Reprodução)

Já em meados de 1968, o Brasil se tornava um dos primeiros países a montar um laboratório destinado à pesquisa e ao ensino de microeletrônica. Esse dar às costas para o mercado internacional, então visto como um movimento ousado, hoje é lido como um retrocesso tecnológico gigante que culminou em uma pirataria institucionalizada, apesar de ter sido responsável por feitos históricos importantes, como foi o Patinho Feio.

O incentivo do BNDES para o desenvolvimento tecnológico nacional nas universidades brasileiras, levou o grupo de jovens formandos da USP a desmontarem um IBM 1130 para que pudessem estudar e criar o primeiro computador brasileiro, tendo como base o curso de arquitetura de computadores ministrado por Glen Langdon, então funcionário licenciado pela IBM, que havia ensinado a criação de uma máquina digital.

O fechamento de mercado brasileiro se sustentou por meio de muita propaganda, com um cartaz da estatal COBRA chegando a dizer que “computador é igual petróleo: é difícil depender dos outros”.

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