Estilo de vida
30/11/2022 às 12:00•2 min de leitura
Uma nova pesquisa publicada neste mês pela revista Nature Food confirma que vacas leiteiras passaram a produzir THC, CBD e outros canabinoides após se alimentarem de cânhamo industrial. Como se não bastasse a transformação na composição do leite, alguns animais tiveram seus comportamentos alterados e apresentaram condições entorpecidas, com registros de bocejos excessivos, instabilidade e olhos avermelhados.
De acordo com a pesquisa, o cânhamo industrial, que ainda não é um aditivo aceitável para ração animal nos EUA ou na Europa, causou um efeito colateral de redução da capacidade de ingestão do gado. Com isso, menos leite foi produzido, mas a quantidade liberada estava com níveis detectáveis de delta-9-tetrahidrocanabinol (THC) — principal composto ativo da maconha — e canabidiol (CBD), que altera comportamentos do corpo, mas não é psicoativo.
Como o cânhamo é nutritivo, barato e amplamente disponível, agricultores costumam se interessar pela prática e formalizá-la como dieta de seus animais. Legalmente, o governo norte-americano indica que ele contém 0,3% ou menos de THC e não o classifica como substância controlada — algo que permite cultivo, colheita, testagem, processamento, transporte e venda sem prejuízos para o empresário.
Pensando nisso, pesquisadores decidiram realizar um teste em dez vacas leiteiras, fazendo com que elas ingerissem o material nutritivo segundo concentrações variadas de canabinoides — metade das vacas ingeriu níveis baixos da substância, enquanto a outra comeu folhas, sementes e flores. Após a análise de sangue, leite, fezes, batimentos cardíacos, respiração e hábitos alimentares, foram determinadas mudanças distintas nos hábitos desses animais.
(Fonte: Getty Images / Reprodução)
"Embora esteja claro que os efeitos observados pela silagem de cânhamo industrial na saúde animal foram causados principalmente pelos canabinoides, não pode ser claramente definido qual canabinoide foi o responsável. Devido à sua alta concentração nas amostras, o THC é o provável culpado, mas os efeitos combinados também podem desempenhar um papel", diz o estudo.
Embora os pesquisadores tenham encontrado THC, CBD e outros canabinoides no leite de vaca, eles não testaram como a ingestão desse leite afetaria os consumidores humanos. Apesar disso, os cientistas compararam as diretrizes estabelecidas pela Autoridade Europeia de Segurança Alimentar — máximo de 3 mg por kg para produtos secos e 7,5 mg por kg para óleo de semente de cânhamo — e descobriram que a nova dieta ultrapassou consideravelmente os números, com casos de uma superioridade de quase 86 vezes.
Dessa forma, o produto ainda é visto como um meio capaz de afetar a segurança do consumo, especialmente quando há crianças envolvidas. E como o cânhamo teve uma má reputação por décadas, os compradores provavelmente “não verão leite enriquecido com CBD nas prateleiras por muito tempo”, diz Jeffrey Steiner, líder do Global Hemp Innovation Center, na Oregon State University.
Um trabalho de longo prazo está sendo realizado agora e pode levar os reguladores a impedir que os agricultores alimentem o gado com cânhamo, caso os resultados sejam preocupantes. Porém, há chances das conclusões apoiarem uma venda regulatória dos produtos nas prateleiras como matéria-prima secundária, visto seu custo-benefício para a indústria pecuarista e a fácil disponibilidade.