Ciência
12/01/2023 às 13:00•2 min de leitura
Até o século XVIII, uma parte significativa da vida no Egito Antigo era pouco ou nada conhecida. Por maiores que fossem os esforços de historiadores e arqueólogos, era impossível compreender o significado dos hieróglifos usados pelos egípcios. E como eles ajudavam a descrever processos culturais, sociais e religiosos, havia uma grande lacuna para compreender aquela sociedade.
Isso mudou em 1799, quando uma pedra foi encontrada por acaso por Pierre-François Bouchard, um homem que até pouco tempo estava esquecido pela história — apesar de ter feito uma das descobertas mais importantes da história.
Pintura da cidade de Roseta na época da descoberta da pedra. (Fonte: British Museum/Reprodução)
Bouchard nasceu em uma família pobre e aos 22 anos decidiu ingressar no exército em 1793. Sua jornada até chegar à Pedra de Roseta foi relativamente curta, mas essencial para que ele percebesse a importância daquele objeto.
Em 1974, Bouchard conheceu Nicolas Jacques Conté, diretor da Escola Nacional de Dirigíveis. Napoleão pretendia criar uma espécie de força aérea e Conté ficou responsável por criar uma equipe para tentar viabilizar o plano. Bouchard era um dos cientistas especializados do grupo.
Ainda antes de embarcar para o Egito, outros dois fatores foram fundamentais para que Bouchard reconhecesse a importância da Pedra de Roseta. Em novembro de 1796, ele entrou para a Escola de Ciências e Arte. Além disso, ele estava se especializando em técnicas de fortificação.
A ida para o Egito envolve ainda um acaso relacionado ao Napoleão. Em maio de 1798, antes de ser nomeado cônsul, Bonaparte foi eleito membro da Academia Francesa de Ciências, o que permitiu que ele criasse uma expedição para o Egito — algo que ele já vinha planejando há algum tempo. Nesta expedição, além dos militares, embarcou também um grupo de 167 cientistas — e entre eles estava Bouchard.
A transcrição à mão feita por Champollion. (Fonte: British Museum/Reprodução)
Cerca de um ano após desembarcar no Egito, Bouchard foi até a cidade Rasheed onde seria responsável por construir uma fortificação. Enquanto sua equipe trabalhava na remoção de uma antiga ruína, eles encontraram uma pedra estranha que havia sido utilizada na antiga fortaleza egípcia que existia no local.
Bouchard provavelmente não demorou para perceber que aquela não era uma pedra comum. Não é possível saber como ela foi parar ali, mas não fosse a presença de uma pessoa com conhecimento em artes e história, a pedra poderia ter sido descartada ou até mesmo destruída.
Para a nossa sorte, Bouchard era a pessoa certa na hora certa, no lugar certo. Porém, sua história sofreu uma reviravolta inesperada. Em 1800, a Pedra de Roseta já era conhecida na França, assim como seu descobridor. Porém, Bouchard acabou sendo capturado pelos otomanos e ficou preso por pouco mais de um mês.
No ano seguinte, Bouchard foi capturado novamente, mas desta vez pelos britânicos. Desta vez foram 4 meses até ser liberado junto de outros soldados, em troca da Pedra de Roseta. Ela foi levada da Academia Científica Egípcia para o British Museum, em Londres, em 1801 e permanece lá até hoje.
Por esse motivo, a transcrição foi feita usando cópias dos textos da pedra, feitas pela equipe da Academia Científica Egípcia. Quem fez a decodificação foi o cientista Jean-François Champollion. Ele percebeu que dois dos três idiomas da pedra coincidiam: o demótico e o grego. O terceiro texto estava escrito em hieróglifos e Champollion deduziu que deveria ser uma terceira cópia.
No dia 27 de setembro de 1822, Champollion revelou ao mundo o resultado do seu trabalho. Ele ficou conhecido na história como o responsável pela compreensão de uma das línguas mais antigas da humanidade. Já Bouchard voltou ao exército e participou de outras guerras napoleônicas, mas jamais foi reconhecido. Ele morreu pobre em 5 de agosto de 1822.