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23/01/2023 às 08:00•2 min de leitura
Ao observar células nervosas se conectando dentro dos olhos de lulas, um grupo de cientistas descobriu um segredo notável: o cérebro desses cefalópodes evoluíram independentemente para se desenvolver da mesma forma que o nosso, seres humanos. A descoberta foi feita por meio de câmeras de alta resolução focadas nas retinas de embriões de lulas longfin (Doryteuthis pealeii).
Segundo os pesquisadores, mesmo que a evolução das duas espécies tenha uma divergência de 500 milhões de anos, o modelo básico de como cérebros complexos e sistemas nervosos evoluem pode ser o mesmo em uma ampla gama de espécies. Por esse motivo, a inteligência dos cefalópodes — como polvos, lulas e chocos — tem sido um assunto de fascínio entre os biólogos.
(Fonte: Shutterstock)
Ao contrário da maioria dos invertebrados, os cefalópodes são conhecidos por serem animais com memórias notáveis, conseguirem usar ferramentas para resolver problemas, excelentes em desenvolverem sistemas de camuflagem e criaturas extremamente curiosas. Além disso, esses animais são capazes de sonhar.
Publicado no dia 5 de dezembro de 2022 na revista Current Biology, o novo estudo conduzido pela Universidade de Harvard, dos Estados Unidos, sugere que as partes principais da fórmula para inteligência avançada, ao menos no planeta Terra, permanecem as mesmas. “Nossas conclusões foram surpreendentes, porque muito do que sabemos sobre o desenvolvimento do sistema nervoso em vertebrados há muito se pensa ser especial para essa linhagem”, afirmou a autora do estudo, Kristen Koenig.
Para analisar de perto os cérebros em desenvolvimento dos embriões de lula, os cientistas usaram corantes fluorescentes para marcar um tipo especial de célula-tronco chamado células progenitoras neurais. As câmeras examinaram as retinas dessas criaturas, onde cerca de dois terços do tecido neural de uma lula pode ser encontrado.
(Fonte: Shutterstock)
Assim como acontece com os vertebrados, os pesquisadores notaram que as células progenitoras das lulas se organizam em uma estrutura chamada epitélio pseudoestratificado — uma estrutura longa e compacta que se forma como uma etapa crucial no crescimento de tecidos grandes e complexos.
Os cientistas também notaram que o tamanho, a organização e o movimento do núcleo dessa estrutura era notavelmente semelhante aos mesmos epitélios neurais dos vertebrados, algo que já foi considerado previamente como uma característica única que permitia animais com espinhas dorsais desenvolverem cérebros e olhos sofisticados.
Essa não é a primeira vez que cientistas observaram cefalópodes compartilhando projetos neurológicos com os seres humanos. Assim como nós, polvos e lulas também possuem uma grande variedade de microRNAs, pequenas moléculas que controlam como os genes são expressos, encontrados dentro de seu tecido neural.
Para as próximas etapas, a equipe pretende observar como e quando diferentes tipos de células das lulas emergem à medida que o tecido epitelial cresce e comparar esse processo com o observado em embriões vertebrados. Caso o plano de crescimento seja o mesmo, é bem possível que o cronograma também possa ser.