Ciência
12/03/2023 às 08:00•2 min de leitura
Há 450 milhões de anos, grande parte dos seres vivos em nosso planeta evoluíram para ter estômagos — o órgão digestivo que conhecemos em nossa própria anatomia. No entanto, um estudo feito pela Universidade do Porto demonstrou que algumas criaturas "involuíram" para descartar esse órgão e viver como seus ancestrais.
Exemplos vivos disso são os mamíferos que põem ovos, como os ornitorrincos e as equidnas espinhosas, e cerca de 25% das espécies de peixe conhecidas por nós. O estômago é um órgão responsável por decompor alimentos e foi se adaptando para digerir blocos maiores de proteína. Então, por que essas espécies regrediram de forma tão impressionante? Veja só o que se sabe até então!
(Fonte: Repositório de imagens NZN)
Em entrevista ao National Geographic, o autor do estudo, Ed Yong, destacou alguns pontos importantes que podem ter levado diversos animais a "descartarem" seus estômagos evolutivamente. "Sabemos que os animais desenvolvem conjuntos muito diferentes de genes de pepsinogênio para lidar com as proteínas em suas dietas específicas. Talvez os ancestrais das espécies sem estômago tenham mudado para uma dieta diferente que tornou essas enzimas inúteis", citou.
Para Yong, essas espécies acumularam mutações debilitantes com o tempo e que simplesmente não faziam sentido. Os pepsinogênios, enzimas presentes nas proteínas, funcionam melhor em ambientes ácidos. Logo, se eles desaparecerem, esses seres não precisarão de uma câmara ácida a mais para sobreviver sem problemas de saúde.
Para se manter ácido, o estômago exige um gasto de energia muito grande das bombas gástricas. A partir do momento que toda essa função não é mais necessária dentro da alimentação de um ser vivo, portar esse órgão só seria um gasto displicente de força que poderia ser usada em outras atividades — o que explica a "involução" com o tempo.
(Fonte: Repositório de imagens NZN)
Embora as justificativas dadas por Yong sejam muito plausíveis, todo esse processo ainda é fruto de muita especulação em termos científicos. Outra ideia plausível dada pelos pesquisadores é que alguns animais consomem muitos mariscos e corais, cujas conchas são ricas em carbonato de cálcio — uma substância que neutraliza o ácido no estômago.
Peixes que se alimentam no fundo do mar, como os bodiões, recebem bocados dessa substância quando sugam grandes quantidades de sujeira. De maneira resumida, é como se essas criaturas estivessem se empanturrando de antiácidos. Portanto, qual o sentido de acidificar o estômago se todo alimento ingerido desfaz esse trabalho? Isso seria razão para que espécies sem estômago não sofram com isso.
Porém, um fato é certo: uma vez que uma espécie perde seu estômago, é consideravelmente improvável que o órgão volte através da evolução. Em todas as espécies sem estômago testadas pelos pesquisadores, exceto o baiacu, os genes que normalmente codificam esse órgão foram completamente apagados de seu genoma. Assim, é quase como se essas criaturas abandonassem o órgão como lixo evolutivo e também queimassem todas as instruções genéticas.