Ford poderá lançar carro que 'se devolve' na falta de pagamento

Para os brasileiros pode não ser uma realidade, mas nos Estados Unidos é muito comum haver reintegrações de posse de carros – ou seja, a "hipoteca" dos veículos que não tiveram as parcelas pagas do seu financiamento.

Segundo o Federal Credit Union, a cada ano, são recuperados cerca de 2 milhões de veículos com pagamentos irregulares, uma média de 5.400 reintegrações de posse por dia. Em comparação com as vendas de carros novos com as devoluções, estas chegam a aproximadamente 65% das vendas. Isso significa que um carro é recuperado para cada 2,4 carros novos vendidos.

Com milhões de automóveis passando por esse processo todos os anos, a Ford Motors registrou a patente de um carro que se "devolverá" à concessionária caso a pessoa não pague ou atrase consideravelmente as parcelas de seu financiamento.

Uma ideia revolucionária

(Fonte: CNN/Reprodução)

Pensando em um futuro sustentável e respirável, a indústria automobilística tem apostado cada vez mais na transformação elétrica e digital. Veículos elétricos reduzem drasticamente as emissões de carbono no setor de transporte, enquanto os carros conectados dão acesso a serviços e recursos dos quais os carros tradicionais não desfrutam, como atualizações de software over-the-air que podem eliminar os custos de reparo, bem como a condução automatizada, que reduz o risco de acidentes.

Como as montadoras apostam no ESG (environmental, social and governance, ou seja, sustentabilidade ambiental, social e de governança corporativa) como uma forma de passar uma falsa ideia de progresso na questão ambiental, o lucro vem sempre em primeiro lugar. Por isso, em termos de inovação tecnológica, a montadora Ford Motors apresentou, em março de 2023, a patente de um carro que se devolverá à concessionária quando seus compradores não efetuarem ou atrasarem demais o pagamento das parcelas do seu financiamento.

(Fonte: The Drive/Reprodução)

Por um lado, essa notícia pode ser o terror dos compradores, visto que muitas questões estão envolvidas por trás de um atraso, mas pelo outro, as montadoras enxergam isso como uma maneira de não saírem no prejuízo e também controlarem os números expressivos de devedores.

A patente intitulada "Sistemas e métodos para retomar a posse de um veículo", arquivada em 2021 e agora publicada pelo Escritório de Marcas e Patentes dos Estados Unidos (USPTO), promete dificultar a vida do devedor em algumas etapas antes de fazer o carro se devolver.

Dificultando os meios

(Fonte: The New York Times/Reprodução)

Primeiro, o proprietário receberá mensagens por meio de um sistema de infoentretenimento do carro avisando sobre a falha no processamento do pagamento do empréstimo. Se a pendência continuar por mais um mês, então o carro poderá fazer bloqueios no sistema de negação, impedindo que o condutor chegue em lugares específicos ou realize viagens, também podendo desativar os alto-falantes e o ar condicionado do veículo.

Consta na patente que a Ford poderá ativar remotamente um componente de áudio no carro para emitir um som desagradável e contínuo quando for dada a ignição. O último recurso, antes da devolução automática do automóvel, pode ser trancar o proprietário fora do veículo. Esta penalidade poderá ser suspensa apenas em caso de emergência. 

A Ford também garante que seria permitida a condução do veículo em viagens essenciais, como ir e voltar do trabalho, para não remover a capacidade do proprietário em ganhar o dinheiro que poderá reembolsar a dívida.

(Fonte: Futuro Proximo/Reprodução)

A tecnologia de devolução autônoma ainda está sendo analisada pela Ford Motors e, por enquanto, só constitui parte do comportamento de proteção de novas tecnologias e ideias que empresas automobilísticas globais fazem rotineiramente. Muitas delas, no entanto, não chegam à produção.

É improvável que vejamos em breve um carro saindo sozinho de uma garagem por instrução de uma montadora, sobretudo porque em muitos países ainda não é permitido que veículos totalmente autônomos ocupem ruas e estradas, mas esse futuro abominável pode estar mais próximo do que pensamos.