Marinheiro fica 2 meses no mar: como é possível sobreviver assim?

Um marinheiro australiano protagonizou nesta semana uma cena digna de um filme de Tom Hanks: sobreviveu durante dois meses no Oceano Pacífico, sozinho com sua cadela, se alimentando de peixe cru e bebendo água da chuva. Resgatado na semana passada por uma traineira de atum, Tim Shaddock, de 51 anos, está "saudável e muito bem", segundo um boletim médico. A cachorra Bella também está em boas condições. 

Mais magro do que o normal, mas saudável e se recuperando bem, o homem contou à emissora britânica que embarcou em sua viagem de mais de 6 mil quilômetros — da cidade de La Paz, no México, até a Polinésia Francesa —, mas logo os componentes eletrônicos do seu barco foram danificados por uma tempestade elétrica, deixando o marinheiro e o cachorro à deriva no oceano revolto.

Sem recursos, comida ou água, Shaddock conseguiu sobreviver junto com Bella sozinhos no mar, se alimentando apenas de peixe pescado com o equipamento existente no barco e bebendo água da chuva e do orvalho, para se hidratar. Para evitar a insolação e o frio, o marinheiro improvisou um abrigo feito do dossel do barco. O resgate ocorreu ainda na costa mexicana. 

Por quanto tempo seres humanos sobrevivem sem água?

Como experimentos científicos sobre limites de sobrevivência com humanos são eticamente inaceitáveis, acidentes como o vivenciado por Shaddock servem para orientar pesquisas. A importante questão sobre quanto tempo um ser humano pode sobreviver sem água ou comida se torna, certamente, um assunto de interesse público.

Em um artigo publicada em 2009 na revista científica alemã Arch Kriminol, pesquisadores do Instituto de Medicina Legal do Hospital Universitário Hamburg-Eppendorf estimaram o tempo possível de sobrevivência de um ser humano sem comida e água entre 8 a 21 dias. "Se uma pessoa for privada apenas de alimentos, o tempo de sobrevivência pode chegar até cerca de dois meses, embora isso seja influenciado por muitos fatores", diz o estudo. 

Dois estudos de caso

Fonte: GettyImages.

Quando comparado ao consenso de que uma pessoa média só pode passar dois a três dias sem água, o estudo de 2009 parece um pouco otimista, mas o resultado depende também da saúde e da idade dos sujeitos, além das condições ambientais. 

Um artigo publicado na revista Historisches Archives, de Hamburgo, sob o título "Indenização pelo prisioneiro 'esquecido'", relata o caso do jovem de 18 anos Andreas Mihavecz que foi deixado no porão de uma delegacia por 18 dias, e depois resgatado vivo.

Em um dos raríssimos experimentos dessa espécie realizado em seres humanos, dois pesquisadores da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, se privaram voluntariamente de água e alimentos, em 1944. Os jovens de 28 e 33 anos ingeriram apenas uma dieta de comida seca, como gatos. Após três e quatro dias, respectivamente, eles interromperam a experiência, antes que ela se tornasse uma ameaça para suas vidas.