Estilo de vida
09/08/2023 às 06:30•2 min de leitura
Um estudo publicado na revista Scientific Reports em 2018 conseguiu comprovar uma relação a princípio improvável, mas com impactos sociais significativos. Segundo o seu autor, os padrões de migração do pássaro tordo (Catharus fuscescens) — do estado de Delaware, nos EUA, até a América do Sul — conseguiram prever com exatidão a intensidade da temporada de furacões na Bacia do Atlântico Norte.
De acordo com o autor da pesquisa, Christopher Heckscher, que é ecologista e professor da Universidade Estadual do Delaware, durante os anos mais tempestuosos, esses pássaros encerravam sua temporada de reprodução mais cedo e adiantavam sua ida para a América do Sul. Entretanto, nos anos mais amenos, eles permaneciam por mais tempo no leste norte-americano.
“Os furacões ocorrem ao mesmo tempo em que [os tordos] estão migrando. Se terminarem a época de reprodução mais cedo, podem chegar lá mais cedo. Faz sentido que eles descubram isso de alguma forma”, explicou Heckscher à National Geographic.
(Fonte: GettyImages)
Perguntado pela publicação norte-americana sobre o que os pássaros estão prevendo para 2023, o ecologista respondeu que, como as ninhadas do tordo terminaram na terceira semana de julho, ainda é cedo para determinar o que vem por aí. No entanto, assegura, em três das últimas quatro temporadas de furacões no Atlântico, as previsões foram tão precisas, e em alguns casos até mais precisas, do que a meteorologia oficial.
Heckscher acha que essas informações meteorológicas chegam aos pássaros no norte da América do Sul, para onde se mudam durante o inverno no Hemisfério Norte. Isso faz sentido, pois são os padrões climáticos dessa região que influenciam, em larga escala, as estações de furacões bem antes que o ciclone tropical se forme.
A explicação teria a ver com os eventos El Niño e La Niña. Durante o primeiro, a água do Oceano Pacífico é mais quente, e esse calor produz ventos que destroem os furacões. Mas o El Niño produz também mais chuvas no sul, o que significa mais frutas disponíveis para os tordos. Assim, teoriza Heckscher, uma dieta mais rica faria com que os tordos retornassem à América do Norte em sua melhor forma para reproduzir.
(Fonte: AlbertHerring/Wikimedia Commons)
Usando relatos de observadores de ninhos, de 1998 a 2016, Heckscher percebeu que, em determinados anos, as fêmeas de tordos sem sucesso reprodutivo interrompiam suas tentativas de renidificação (segunda postura).
Como essa fenologia tem efeito direto no momento da migração, o autor testou a hipótese de que a interrupção precoce da nidificação ocorre em anos com tendência para a alta atividade de furacões. Para comprovar sua teoria, ele testou a relação entre tamanho da ninhada e atividade ciclônica posterior.
Se os padrões reprodutivos são afetados por estações ativas de furacões ou se essa limitação ocorre por condições ambientais anteriores, ambos os fenômenos devem ser considerados preditores dessas tempestades.