Artes/cultura
21/08/2023 às 06:30•2 min de leitura
Podemos afirmar que raras são as pessoas que ficam felizes ao encontrarem um rato em suas casas. O descontentamento fica ainda maior quando lembramos que esses animais costumam andar em bando. Isso significa que se você viu um deles, é sinal de que existem muitos outros por perto.
É por isso que os ratos acabam se comportando como donos das cidades — e em alguns casos, das nossas casas. Eles comem o que querem, roem objetos pessoais e até abrem buracos em nossas paredes. São péssimos hóspedes.
Mas ironicamente, um grupo de historiadores americanos está em dívida com os ratos locais — e todo fã de história e antiguidades também.
Achados encontrados em um ninho de rato da cidade: Fonte: reprodução DANI JAWORSKI
O rato-preto (Rattus rattus) é a espécie de rato mais comum nas cidades, inclusive no Brasil. Mas a história desse roedor se parece um pouco com a trajetória das primeiras pessoas que vieram da Europa rumo à América.
Em primeiro lugar, esses animais chegaram ao nosso continente acompanhando os colonizadores. Na sequência, eles passaram a morar junto com essas pessoas, em busca de restos de comida.
Muitos ratos encontraram nessas casas o lugar perfeito para chamarem de lar não só para eles, mas para as futuras gerações. Sim, gerações de ratos foram se alternando nos ninhos construídos no século XIX.
Os ninhos dos ratos são feitos com tudo aquilo que o animal encontra pelo caminho, como objetos, documentos etc. Ao roubarem os objetos pessoais dos moradores das casas, os ratos acabaram criando uma vasta coleção de itens que alegraram os historiadores.
Esses objetos têm ajudado os pesquisadores a entenderem os costumes dos estadunidenses que viviam na cidade de Williamsburg, Virgínia, dada a sua variedade.
Para se ter uma ideia, em um dos ninhos dos ratos havia um garfo de jantar da metade do século XIX. O produto é considerado pesado quando comparado ao tamanho de um rato, mas mesmo assim, ele estava em um antigo ninho.
A forma como esses objetos foram encontrados e a variedade das peças fez com que os pesquisadores classificassem esses bichinhos como “pequenos arquivistas”.
Como os primeiros moradores dessa cidade chegaram no século XVII, os pesquisadores estão esperançosos que peças ainda mais antigas possam ter sido guardadas pelos antepassados dos ratos atuais.
Cada caixinha é um ninho que foi encontrado no assoalho dessa antiga casa. Reprodução: DANI JAWORSKI
Há cerca de 30 anos, os pesquisadores dos EUA têm considerado os ninhos de ratos como achados importantes.
“A observação, coleta e análise de ninhos de ratos em um contexto doméstico fornece aos pesquisadores um raro vislumbre da vida humana cotidiana não encontrada em dados arqueológicos típicos”, escreveu o pesquisador Travis McDonald em um artigo.
Os objetos encontrados nesses ninhos ainda podem ajudar a contar a história de pessoas que tiveram sua existência apagada, como a população escravizada. Por meio de seus objetos pessoais, guardados por algum ratinho curioso, seria possível ter uma ideia de como esses indivíduos viviam e interagiam entre si.