Artes/cultura
30/08/2023 às 02:00•2 min de leitura
Um estudo conseguiu, pela primeira vez, avaliar os efeitos em cascata do desequilíbrio de um grupo de lobos sobre o ecossistema florestal. Para isso, ele tomou como base a influência que a chegada de um lobo solitário exerceu sobre a Isle Royale, uma ilha localizada no estado de Michigan, nos Estados Unidos. A região se caracteriza por grande biodiversidade e passou por transformações significativas ao longo das últimas décadas.
Por lá, a população de lobos foi atingida por doenças, incluindo a parvovirose canina, que resultaram no declínio da espécie no decorrer de anos. Isso porque o estudo, publicado na Science Advances, destaca que, em meados de 1980, de cinquenta lobos, restaram apenas doze. E pode-se dizer que muita coisa mudou com a chegada de um novo animal que vinha do Canadá, por meio de uma ponte de gelo, sem qualquer relação com os já presentes na região, em 1997.
(Fonte: Getty Images/Reprodução)
Com a chegada do lobo imigrante (M93), esse cenário mudou. Chamado também como "velho cinzento", em questão de tempo, ele se tornou o macho reprodutor de uma das três alcateias dessa ilha remota. Naturalmente, alguns efeitos foram percebidos.
Dentre eles, a introdução de novas variabilidades genéticas entre os lobos, o que foi apontado como fundamental para encerrar o ciclo de declínio populacional, parcialmente explicado pela prática da endogamia. Para outras espécies, não foi diferente. Isso porque os alces presentes por ali respondiam pelo consumo de uma grande quantidade de vegetais.
Em outras palavras, os alces contribuíam de forma direta com o declínio da vegetação local. E uma vez que seus predadores naturais, os lobos, estavam em menor número, mais expressiva se tornava a redução da cobertura da floresta.
Por outro lado, pesquisadores constataram que nessa dinâmica nova, com uma maior presença dos lobos, foi restaurado o equilíbrio de forma gradativa. Assim, os alces passaram a se apresentar em números mais controlados. Mas além disso, foi percebida uma maior presença de outras espécies animais e vegetais em meio à expansão da floresta, que tinha um maior espaço para se recuperar, como num efeito dominó.
(Fonte: Getty Images/Reprodução)
O estudo reforça a importância da variabilidade genética para o desenvolvimento de espécies, mostrando como seu efeito pôde ser cuidadosamente analisado em um grupo de lobos, e no médio e longo prazo, gerar impactos sobre outros animais e o ecossistema inteiro de uma região. Em suma, os dados são importantes considerando que muitas espécies estão atualmente ameaçadas de extinção — e que um único animal pode fazer muita diferença.
Inclusive, uma década após a área florestal se apresentar em equilíbrio, houve um novo período de redução da população dos lobos. Desta vez, em virtude da elevada prevalência genética do lobo "velho cinzento" sobre a alcateia, sendo acentuada por relações entre animais pertencentes à mesma família em meio ao isolamento geográfico presente.
Por conta disso, segundo o estudo, em 2008, quase 60% dos genes dos lobos eram herdados do lobo cinzento M93. E como resultado, em 2015, restavam apenas dois lobos, que eram pai e filha, mas também eram meios-irmãos, incapazes de reproduzirem entre si e evidenciando os efeitos nocivos da endogamia no grupo.
A fim de reverter esse cenário preocupante, em 2018, um programa de restauração reintroduziu novos lobos na região. Com isso, a alcateia aumentou, alcançando 30 lobos, e ao mesmo tempo a população de alces se manteve em números mais controlados, girando por volta de mil.