Artes/cultura
25/10/2023 às 09:00•2 min de leitura
Uma rara tatuagem que faz referência a Jesus Cristo foi encontrada em um cadáver de 1,3 mil anos no sítio arqueológico de Ghazali, no Sudão. Os restos mortais estavam enterrados próximos a um mosteiro medieval, de acordo com o Centro Polonês de Arqueologia Mediterrânea da Universidade de Varsóvia (PCMA/UW), responsável pela descoberta.
A arte na pele foi identificada por acaso durante a documentação fotográfica do corpo, conforme o comunicado divulgado no dia 18 de outubro. Enquanto registrava as imagens, a bioarqueóloga da Universidade de Purdue (Estados Unidos), Kari Guilbault, notou algo diferente no pé direito do cadáver.
Depois de uma análise mais detalhada das fotos, usando softwares específicos, a equipe confirmou que a marca representava um cristograma. O símbolo religioso combina as letras gregas “chi” e “rho”, formando uma abreviatura de monograma para o nome de Cristo.
(Fonte: Universidade de Varsóvia/Divulgação)
Junto ao cristograma, que surgiu por volta do ano 324 d.C., os cientistas também identificaram as letras alfa e ômega, que abrem e fecham o alfabeto grego, respectivamente. Segundo o relatório, elas “representam a crença cristã de que Deus é o começo e o fim de tudo”.
A Universidade de Varsóvia explicou que se trata da segunda vez em que a prática de tatuagens é identificada na Núbia medieval, que engloba partes dos atuais Egito e Sudão. Ela se diferencia de outras artes corporais antigas daquela área por ser feita com linhas retas em vez do ponto e traço.
Outro detalhe sugerido pela pesquisa é que a opção por tatuar o cristograma no pé direito seria uma referência à crucificação de Jesus Cristo. O processo descrito nos evangelhos canônicos afirma que os soldados romanos usaram pregos nas mãos e pés de Cristo ao crucificá-lo, influenciando a escolha da pessoa.
(Fonte: Universidade de Varsóvia/Divulgação)
Este corpo, que provavelmente pertencia a um homem, foi descoberto nas escavações feitas entre 2012 e 2018. Além da área do antigo mosteiro, a equipe investigou outros quatro cemitérios nas proximidades e centenas de sepulturas.
A pessoa tatuada estava em um dos cemitérios utilizados pelos moradores, mas ainda há dúvidas se ele era um monge. O grupo ao qual pertencem os restos mortais habitou a área entre os anos de 667 e 774, contando com integrantes que tinham entre 35 e 50 anos quando morreram.
Outro mistério não solucionado diz respeito ao modo como a tatuagem de Cristo foi feita. Isso poderia ser resolvido com a retirada de uma amostra, mas o estado frágil do cadáver, conservado a partir de uma mumificação natural, inviabiliza o processo.
Especula-se que o desenho tenha surgido a partir da mistura de um pigmento à base de carbono com água, gordura animal ou leite materno, assim como outras tatuagens que estão entre as mais antigas já encontradas.