Ciência
14/12/2023 às 09:59•2 min de leitura
Um zoólogo chamado Hamish Spencer da Universidade de Otago, na Nova Zelândia, avistou uma ave rara com plumagem distinta, metade macho e metade fêmea. Junto do ornitólogo amador John Murillo, os pesquisadores tiraram fotos e gravaram vídeos de um saí-verde selvagem (Chlorophanes spiza) enquanto estavam de férias na Colômbia.
Um relatório sobre a descoberta foi publicado no Journal of Field Ornithology e representa o segundo exemplo registrado de ginandromorfismo bilateral nesta espécie em mais de um século. Um animal ginandromorfo é caracterizado por nascer com características dos dois sexos, mas com uma divisão muito marcante de cada parte em seu corpo.
(Fonte: João Murillo/Divulgação)
O ginandromorfismo bilateral já foi documentado em diversos outros animais na história, como abelhas, borboletas, aranhas, bicho-pau e até mesmo lagostas. Algumas outras aves também já foram documentadas com essa característica, mas acredita-se que os ginandromorfos bilaterais sejam raros.
“Muitos observadores de pássaros poderiam passar a vida inteira sem ver um ginandromorfo bilateral em nenhuma espécie de ave. O fenômeno é extremamente raro em aves. Não conheço nenhum exemplo na Nova Zelândia”, disse Spencer em comunicado oficial. O estudo dos ginandromorfos é importante para a compreensão científica de como o sexo biológico é determinado nas aves e seu comportamento sexual.
Os saís-verdes machos têm plumagem predominantemente azul, apesar do nome, enquanto as fêmeas seguem com sua plumagem verde. O pássaro observado em questão, no entanto, possuía ambas as cores. “Este exemplo particular de ginandromorfia bilateral – macho de um lado e fêmea do outro – mostra que, como em várias outras espécies, qualquer lado da ave pode ser masculino ou feminino”, argumentou Spencer.
(Fonte: João Murillo/Divulgação)
Embora exista uma série de teorias sobre como os animais ginandromórficos se formam, os cientistas acreditam que isso pode ocorrem em aves quando um óvulo feminino se desenvolve com dois núcleos. Para os mamíferos, as células masculinas geralmente têm uma cópia de cada cromossomo sexual (X e Y) e as fêmeas têm duas cópias do cromossomo X. Nas aves, os cromossomos sexuais são designados por Z e W em vez de X e Y.
Os óvulos da fêmea terão uma única cópia de cada cromossomo (ZW) em seu núcleo, enquanto o espermatozoide masculino terá dois cromossomos Z. De acordo com pesquisadores, o ginandromorfismo provavelmente ocorre se um óvulo feminino se desenvolver com dois núcleos — um com Z e outro com W. Então, esse óvulo é duplamente fertilizado por dois espermatozoides portadores de Z, resultando em um animal metade de cada sexo.
A equipe não conseguiu observar nenhum comportamento de cortejo nem coletou amostras de sangue ou tecido para estudar esses cromossomos. Também não ficou claro se a ave em questão não é fértil ou se reproduziu durante os 21 meses em que esteve supostamente presente na floresta de Villamaría, na Colômbia. De todo modo, só o que se sabe é que a existência desse incrível animal é uma amostra perfeita do universo complexo existente na natureza.