Artes/cultura
16/01/2024 às 14:00•2 min de leitura
Em 2019, um agricultor na zona rural de Montilla, no sul da Espanha, descobriu uma antiga bala de chumbo com a inscrição "CAES" — uma forma abreviada do nome de Caio Júlio César, o grande general e estadista romano. O artefato foi entregue a pesquisadores da Universidade Autônoma de Madrid, do Museu Arqueológico de Cabra e do Museu Histórico de Baena para estudos posteriores.
Além do nome abreviado de Júlio César, o objeto também trazia inscrita a palavra "IPSCA", referindo-se a uma antiga cidade ibero-romana. De acordo com os pesquisadores, essas inscrições oferecem provas convincentes de que uma batalha histórica influente aconteceu na região. A mais provável entre elas seria a Batalha de Munda, a campanha história das forças de Júlio César contra Pompeu.
(Fonte: Universidade de Salamanca/Divulgação)
Segundo especialistas, as inscrições em projéteis de estilingue começaram na Grécia no século V a.C., sendo uma prática que continuo sendo exercida na época de dominação romana. Geralmente, os projéteis eram inscritos com o nome do fabricante, do comandante militar, da legião ou do local de sua implantação. Neste caso, ambas as inscrições "IPSCA" e "CAES" criam uma conexão com Júlio César.
Em 45 a.C., as forças de César puseram fim à guerra civil em curso, culminando na Batalha de Munda, na qual seu exército travou um conflito decisivo contra os filhos de Pompeu. A localização real desta batalha tem sido calorosamente debatida ao longo dos anos, mas a região da grande Montilla tem sido cada vez mais apontada como a arena da disputa.
A descoberta desta bala de chumbo com inscrições acrescenta peso a esta afirmação, mostrando que as forças de Júlio César tinham de fato travado uma batalha ali e que Ipsca tinha se aliado ao exército do estadista contra Cneu e seu filho Sexto Pompeu.
(Fonte: Wikimedia Commons)
A Batalha de Munda marcou um ponto de virada importante na história de Roma, uma vez que Cneu e Sexto Pompeu representaram uma revolução potencialmente imponente contra o governo cada vez mais difundido de Júlio César. Nesse conflito, os pompeianos assumiram uma posição elevada, adquirindo vantagem no conflito que seguiria. César, contudo, conseguiu atraí-los para o meio da batalha.
O considerado primeiro imperador de Roma juntou-se então à escaramuça, inspirando sua 10ª Legião. Enquanto isso, Cneu tentou mudar taticamente suas tropas para repelir um ataque da cavalaria romana. Para sua infelicidade, isso foi mal interpretado pelas outras tropas, que acreditaram ser um sinal para recuar — abrindo espaço para que as forças de César rompessem a formação.
Em geral, a batalha foi bastante polêmica, uma vez que nem César, nem Pompeu queriam ir para a guerra. A filha do imperador, inclusive, foi casada com Pompeu por muitos anos até ela morrer em 54 a.C. Nos anos que se seguiram, Pompeu ficou com ciúmes de Júlio César e de seu podem em expansão, aliando-se à nobreza para se opor ao tirano. A bala de chumbo com o nome de César serve como peça-chave no quebra-cabeça da história romana, apoiando detalhes anteriormente debatidos e desconhecidos na longa e célebre vida de um dos maiores nomes do Império Romano.