Ciência
23/03/2017 às 02:00•3 min de leitura
Imagine-se vivendo em algum dos seguintes lugares: Bristol, na Inglaterra; Largs, na Escócia; Taos, nos EUA; Windsor, no Canadá. E aí, qual parece ser a melhor escolha? Antes, porém, que você comece a fazer suas malas, saiba que os destinos escolhidos aqui têm em comum um fato bastante bizarro: são cidades possuídas pelo eterno e já conhecido zumbido misterioso.
O barulho em questão foi relatado pela primeira vez ainda na década de 1950, por pessoas que começaram a ouvir um som irritante, de baixa frequência e contínuo, principalmente em Bristol, Taos e Largs. Desde então, inúmeras investigações científicas já foram iniciadas para tentar descobrir de onde vinha o som que algumas pessoas afirmavam ouvir.
O curioso é que apenas uma parcela – correspondente a 2% – dos moradores de cada cidade afirmava ouvir o barulho considerado parecido com o motor em funcionamento de um carro a diesel. Consegue imaginar ou ainda é complicado? Bem, para ajudar você a entender melhor sobre qual tipo de som estamos falando, assista ao vídeo a seguir e, principalmente, ouça-o. Mas não por muito tempo, se você não quiser enlouquecer.
Enlouquecer? Exatamente. Há relatos de pessoas que perderam sua lucidez devido ao barulho eterno. Basicamente, ele existe todo dia e a todo o momento em alguns lugares espalhados ao redor do mundo. A inglesa Katie Jacques, uma professora aposentada, em entrevista à BBC, explicou que só consegue deixar de ouvir o zumbido quando escuta música.
Segundo Jacques, o barulho existe somente nas proximidades de sua casa e, quando viaja ou vai para outros lugares, ela deixa de ouvi-lo. Essa informação e o fato de que um exame clínico não detectou problemas de audição em Jacques só completam a ideia de que o tal barulho realmente existe e talvez seja perceptível somente a ouvidos muito sensíveis.
Fonte da imagem: Reprodução/Ohrendoktoren
Sobre as similaridades entre os registros já feitos a respeito do barulho maldito, sabe-se que: ele é mais bem ouvido em ambientes fechados; é mais forte à noite do que durante ao dia; é mais comum em áreas rurais e retiradas, sendo quase inexistente em grandes centros urbanos – provavelmente sejam inaudíveis em meio aos ruídos da cidade grande. Jacques define os ruídos como “um tipo de tortura, algumas vezes você quer gritar”.
Essa tortura sonora causa também outros efeitos em quem escuta o zumbido, como enjoo, vômito, dor de cabeça, tontura, sangramento nasal e distúrbios de sono. Um caso de suicídio no Reino Unido já foi relacionado ao ruído eterno. Só para que você tenha ideia, existe uma associação de apoio a pessoas que ouvem zumbidos de baixa frequência na Inglaterra que recebe frequentemente pedidos de ajuda de quem tem sua vida perturbada por esse tipo de barulho.
Fonte da imagem: Reprodução/BlogZazilli
Nos anos de 1970, a região inglesa de Bristol registrou 800 queixas de pessoas que ouviam o zumbido. A justificativa, à época, era o barulho urbano, de carros e empresas que funcionavam sem parar. Outro boom de reclamações aconteceu em Taos, cidade do Novo México, nos EUA, que na primavera de 1991 teve recorde de reclamações do tal barulho eterno de baixa frequência. Pesquisadores da universidade local foram enviados para descobrir mais a respeito do assunto, mas não tiveram sucesso.
Aparentemente, a origem do tal barulho não é fácil de ser identificada, pois cientistas do mundo todo já tentaram estudar esse fenômeno curioso e intrigante; inclusive, pesquisadores do Canadá começaram, há alguns meses, novos estudos para tentar desvendar os zumbidos da região de Windsor.
Fonte da imagem: Reprodução/Fastcoexist
Tudo o que se sabe, por enquanto, é que os casos de ruídos não são nenhum tipo de histeria coletiva – que é um distúrbio psicológico que afeta pessoas de um mesmo grupo – nem de um surto de hipocondria auditiva. O que existe, até o momento, são suposições, sendo que entre elas estão a presença de linhas de gás de alta pressão, de correntes elétricas e até mesmo de dispositivos de comunicadores sem fio.
Há, ainda, quem acredite que o zumbido possa ser resultado de radiações eletromagnéticas de baixa pressão, audíveis apenas para algumas pessoas. A Medicina estuda zumbido com especial atenção e o classifica como uma patologia na qual o portador ouve algum tipo de ruído mesmo quando não há presença de som. O problema é que, para diagnosticar essa patologia auditiva, são feitos alguns testes, e a maioria das pessoas que se queixou desses barulhos irritantes específicos em algumas regiões não apresenta disfunções em seu sistema auricular.
Ao que tudo indica, é mais lógico “culpar” questões de ambiente, como abalos sísmicos de baixa frequência, geralmente causados pelas ondas do mar. Além disso, há quem acredite que serviços secretos militares podem ter máquinas que enviam esses sons, ainda que sejam submarinas. A recomendação para quem ouve esses barulhos é recorrer a outros meios de som, como músicas, filmes e afins, bem como terapia.
É importante sempre lembrar que existe o zumbido patológico, causado por problemas auriculares facilmente detectados por um médico especialista no assunto. O zumbido do qual falamos aqui é diferente daquele que pode ser tratado como condição patológica, pois ocorre em regiões geográficas específicas, em pessoas com condições auriculares perfeitas. E aí, você já conhecia essa história? De onde será que vem o tal barulho?
*Publicado originalmente em 31/7/2013.