Ciência
30/11/2024 às 15:00•2 min de leituraAtualizado em 30/11/2024 às 15:00
Imagine um tornado de magnitude F3, aquele que é capaz de destruir telhados e paredes, descarrilhar trens e levantar automóveis, com ventos de até 332 km/h. Uma dessas colunas violentas de fúria passou pela planície de Nullarbor, no sul Austrália em novembro de 2022, mas ninguém percebeu.
O mais estranho é que ess tremenda tromba d'água provocou no solo uma imensa "cicatriz" de quase 11 quilômetros de comprimento e entre 160 e 250 metros de largura que, da mesma forma, passou totalmente despercebida.
Recentemente, ou seja, passados dois anos do vórtice ciclônico, um espeleólogo, pesquisador de cavernas, percebeu por acaso essa gigantesca formação, enquanto navegava tranquilamente no Google Maps em busca de cársticos, paisagens formadas pela dissolução de rochas calcárias.
Quando o observador percebeu a estranha marca, mais tarde identificada como uma cicatriz erosiva, o homem procurou ajuda de especialistas. A assinatura do tornado fica a somente 20 quilômetros ao norte da Ferrovia Transaustraliana e 90 quilômetros a leste-nordeste de um antigo assentamento ferroviário chamado Forrest.
O pesquisador da Escola de Ciências da Terra e Planetárias da Curtin University, em Perth, Matej Lipar, que analisou imagens antigas de satélite do Google, descobriu que ela apareceu pela primeira vez entre os dias 16 e 18 de novembro de 2022.
Em um artigo publicado na plataforma The Conversation, ele descreveu as imagens: "Padrões circulares azuis apareceram ao lado da cicatriz, indicando poças de água associadas a chuvas fortes". E concluiu: "Após uma investigação mais detalhada, percebemos que a cicatriz foi criada por um tornado feroz que ninguém sabia que havia ocorrido".
Para investigar o fenômeno, a equipe de Lipar visitou a região para analisar in loco a cicatriz. Eles pesquisaram possíveis marcas cicloidais características dos tornados, tentando correlacionar atividades de vórtice de sucção com padrões climáticos históricos que pudessem estar associados à ocorrência.
Em seu estudo, Lipar descreve padrões climáticos marcados pela passagem de uma forte frente fria no sentido oeste-leste juntamente com umidade tropical, ou seja, a presença simultânea de ar quente e úmido. Em outras palavras, um estopim para fenômenos meteorológicos explosivos, como tempestades severas e fortes vendavais.
A confirmação do fenômeno veio por meio das imagens das nuvens, intensas na região no dia 17 de novembro de 2022, enquanto as estações meteorológicas vizinhas registraram chuvas torrenciais, que podem estar relacionadas com as cicatrizes observadas, diz Lipar.
O estudo foi publicado na revista Journal of Southern Hemisphere Earth Systems Science.