Ciência
08/04/2024 às 16:00•2 min de leituraAtualizado em 08/04/2024 às 16:00
O cupuaçu é um fruto encontrado na região da floresta amazônica, mas bastante popular em diversos pontos espalhados pelo país, já que se consagrou na nossa culinária. Seu nome vem do tupi, onde "kupu" significa "parecido com cacau" e "uasu" significa "grande".
Fato é que esse fruto bastante nutritivo e fonte de vitamina C ganhou fama por ser considerado uma espécie nativa brasileira, de ocorrência natural. Mas pesquisadores do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) foram investigar essa história mais a fundo e descobriram que a origem desse fruto, na verdade, é bem diferente da que se imaginava.
Os estudiosos notaram algo bastante curioso envolvendo o cupuaçu: o fruto nunca era encontrado em regiões de mata fechada, muito pelo contrário, sua ocorrência parecia sempre estar ligada aos centros populacionais. Descobrir a origem do fruto, portanto, seria importante para esmiuçar sua história.
A partir do sequenciamento do DNA de cupuaçus e cupuís, foram percebidas grandes semelhanças entre os frutos. Ou melhor, foi revelado a que nível ela existe: o cupuaçu é uma variante dele.
Com base nos dados genômicos obtidos, foi possível descobrir que o cupuaçu foi produzido a partir de um cuidadoso processo de domesticação desenvolvido pelos indígenas. Isso revela um expressivo manejo de terras e de conhecimentos aprofundados sobre as diferentes espécies.
Prova disso é que já existem evidências de como os índios nativos se alimentavam de diversos tipos de leguminosas, árvores frutíferas, entre outras variedades existentes na amazônia. O estudo que revelou detalhes sobre esse processo de domesticação do cupuaçu foi publicado na revista Communications Earth & Environment em novembro do ano passado.
O trabalho destaca que os antigos habitantes que viviam no entorno do Rio Negro teriam explorado as características do cupuí. Entre 5 e 8 mil anos atrás, os indígenas optaram por selecionar aqueles frutos que apresentavam maior tamanho e polpa mais volumosa para cruzá-los.
Ou seja, o objetivo era, à medida que os novos cupuís nasciam e cresciam, selecionar aqueles que apresentavam as características desejadas para serem cultivados novamente mais adiante, num ciclo que se repetia de tempos em tempos. Assim, surgiu o cupuaçu como conhecemos atualmente, uma espécie domesticada, ou seja, fruto do processo de seleção artificial.
Esse método, biologicamente falando, é análogo ao que possibilitou que os cachorros, que são descendentes dos lobos, se tornassem espécies domesticadas pelos humanos há 12 mil anos. Com isso, fica o questionamento: será que há outras espécies brasileiras que surgiram da mesma forma?