Saúde/bem-estar
26/10/2024 às 21:00•2 min de leituraAtualizado em 26/10/2024 às 21:00
Embora a migração dos gnus das planícies do Serengeti, entre o Quênia e a Tanzânia, seja considerada oficialmente a maior do mundo, com 1,5 milhão de animais percorrendo anualmente 1,6 mil quilômetros, outra espécie pode ganhar a pole position quando considerada a biomassa: a das sardinhas da África do Sul.
Chamado de “o maior cardume da Terra”, a corrida das sardinhas ocorre anualmente de maio a julho, e leva centenas de milhões desses pequenos peixes a deixar sua área de distribuição central temperada no sul do país, ao longo das águas subtropicais da costa de KwaZulu-Natal, em direção ao Oceano Índico.
O apelido de maior cardume do mundo não é exagero: esses cardumes de sardinha chegam a se estender por sete quilômetros de comprimento, por 1,5 quilômetro de largura e 30 metros de profundidade. Se somadas, essas sardinhas podem chegar a bilhões de indivíduos em cada migração, o que significa que são acompanhadas por um exército de predadores, de golfinhos e tubarões até aves marinhas e focas.
Qual seria então a vantagem dessa migração, na qual as sardinhas acabam devoradas? Alguns estudos sugerem que esse movimento é uma “migração de desova de um estoque subtropical distinto”. Ou seja, essas sardinhas seriam naturais das águas subtropicais e, após um tempo em águas mais frias, estariam “voltando para casa” para se reproduzir.
Mas um estudo de 2021 contesta essa teoria. Por meio de informações genéticas, os autores descobriram que a maioria das participantes da “corrida” é de sardinhas de origem atlântica, onde as águas são naturalmente mais frias. O que faz com que elas iniciem a migração é um período breve de ressurgência (subida de águas mais frias do fundo). Mas elas acabam imprensadas entre a costa e uma corrente quente à qual não estão adaptadas.
O estudo de 2021 conclui que a tradicional corrida da sardinha é "um raro exemplo de migração em massa que não tem benefícios aparentes de aptidão", ou seja, não há nenhum tipo de benefício observável ou mensurável com o nosso conhecimento atual. Além disso, esse volumoso deslocamento sem volta é uma imensa armadilha ecológica.
Para o primeiro autor do artigo da ScienceAdvances, Peter Teske, da Universidade de Joanesburgo, "a migração das sardinhas pode ser um vestígio do comportamento de desova que remonta ao período glacial. O que hoje é um habitat subtropical no Oceano Índico era, naquela época, uma importante área de berçário para sardinhas com águas frias".
Lembrando que "as sardinhas que participam da corrida são originadas de águas mais frias", o coautor Luciano Beheregaray, da Universidade de Flinders, alerta que, com o aquecimento global, a corrida das sardinhas poderá acabar, pois não haverá mais motivo para essa migração.