Estilo de vida
21/09/2024 às 03:00•2 min de leituraAtualizado em 21/09/2024 às 03:00
Hoje, muitos idosos do mundo gastam o precioso tempo de suas vidas pesquisando os hábitos dos moradores das cidades de Okinawa (Japão), Sardenha (Itália), Icária (Grécia), Nicoya (Costa Rica) e Loma Linda (EUA). É que esses locais são considerados "Zonas Azuis", regiões do mundo onde as pessoas vivem mais de 100 anos, e de uma forma mais saudável.
Esse poderoso conceito, que já rendeu dezenas de livros de sucesso, e poderosas franquias pelo mundo, foi cunhado pelo jornalista Dan Buettner no início dos anos 2000, na época explorador e bolsista da National Geographic. Depois de uma expedição a Okinawa, no Japão, para investigar os casos de longevidade na ilha, ele decidiu pesquisar outras regiões do mundo com populações supostamente longevas.
Após 24 anos de sucesso e inspiração global para idosos e profissionais de saúde do mundo inteiro, as zonas azuis podem estar agora prestes a caducar. É que uma pesquisa de maio, ainda não revista por pares, flagrou erros administrativos e até fraudes previdenciárias escondidos na construção dos conceitos de longevidade das zonas azuis,
O autor do estudo, Dr. Saul Justin Newman, demógrafo do University College London, começou sua pesquisa pelo mais óbvio: as certidões de nascimento. A primeira descoberta foi que só 18% dos supercentenários tinham o documento. Nos EUA, esse índice é quase zero por cento e, o que é pior, só 10% dos que já morreram tinham certidão de óbito. Com isso entre 69 a 82% dos supercentenários "azularam" da lista.
Mas a coisa não parou por aí: em Okinawa, uma revisão do governo japonês de 2010 descobriu que 82% dos supostos centenários já estavam mortos há muito tempo. Nos casos de Sardenha e Ikaria, o escritório de estatísticas Eurostat atualizou registros em 1990, a cidade italiana estava no 51º lugar em expectativa de vida na velhice na Europa, enquanto os gregos ficaram em 109º.
Nas duas cidades, foram detectadas fraudes previdenciárias: na Grécia, mais de 9 mil pessoas com mais de 100 anos que recebiam aposentadoria estavam na realidade mortas. Na Itália, descobriu-se que 30 mil pensionistas "vivos" estavam mortos desde 1997.
Pelo seu trabalho sobre as tretas das Zonas Azuis, o Dr. Saul Justin Newman recebeu o Prêmio IgNobel de Demografia, a famosa paródia do Prêmio Nobel, concedido a pesquisas e descobertas científicas que "primeiro fazem as pessoas rirem, e depois pensarem".
Em um artigo para a plataforma The Conversation, o cientista resumiu a sua principal conclusão: "O segredo para viver até os 110 anos era: não registre sua morte". Mais IgNobel impossível.