Saúde/bem-estar
30/11/2024 às 06:00•2 min de leituraAtualizado em 30/11/2024 às 06:00
Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, as plantas falam, ou, pelo menos, emitem sons. Mais do que isso: elas gritam quando estão estressadas, seja porque estão precisando de água ou por terem seus caules cortados. Esses sons se propagam pelo ar à distância, e podem ser registrados, segundo um estudo publicado no ano passado na revista Cell.
Não ouvimos todas as queixas e alertas porque a frequência desses ruídos é ultrassônica e, portanto, alta demais para ser captada pelo ouvido humano. No entanto, esse vozerio vegetal pode ser ouvido por insetos, outros mamíferos e certamente outras plantas. Segundo os autores, é possível até que haja muita interação acústica entre essas espécies diferentes.
“Mesmo em um campo silencioso, há sons que não ouvimos, e esses sons carregam informações”, afirma a autora sênior da pesquisa, Lilach Hadany, bióloga evolucionista e teórica da Universidade de Tel Aviv, em Israel, em um comunicado de imprensa.
Para testar sua tese, os pesquisadores usaram microfones para gravar plantas de tomate e tabaco saudáveis. Primeiro, os vegetais foram gravados em um câmera acústica à prova de som e depois em uma estufa barulhenta. Depois, elas foram deixadas sem água por vários dias e, finalmente, tiveram seus caules cortados.
Após gravarem muitos "choros e reclamações", eles treinaram um algoritmo de aprendizado de máquina para distinguir entre plantas não estressadas, sedentas e feridas (cortadas). A primeira descoberta foi que plantas estressadas fazem mais "barulho" do que as não estressadas. Uma planta estressada emite cerca de 30 a 50 estalos parecidos com plástico bolha sendo estourado, por hora, em intervalos regulares.
Já as plantas não estressadas ficam mais "na delas", em silêncio, e cuidando apenas dos seus afazeres de planta. Os tomates, por exemplos, quando não estão sob estresse, explica Hadany, ficam quietinhos.
Embora tenham comprovado que as plantas emitem sons intensos quando estressadas, inclusive outras espécies como milho, trigo, uva e cactos, os autores ainda não sabem como esses ruídos são produzidos, mas é possível que seja por meio de um processo conhecido como cavitação, no qual as plantas formam bolhas de ar (cavidades) em seu sistema vascular.
Outra questão que o estudo ainda não conseguiu comprovar é se as plantas produzem esses sons para se comunicar com outros organismos. De qualquer forma, a simples emissão seletiva de ruídos já é um tremendo sinal de evolução, com implicações ecológicas.
Para Hadany, assim como as plantas, outros organismos podem também ter evoluído para participar desse "diálogo". E cita os exemplos de "uma mariposa que pretende pôr ovos em uma planta ou um animal que pretende comer uma planta". Uma "conversinha" prévia pode orientar essas decisões, diz a bióloga.