
Ciência
29/05/2024 às 20:00•2 min de leituraAtualizado em 04/06/2024 às 17:16
Um peixe nanico, que mede de 7,5 a 20 centímetros de comprimento, agita o fundo do oceano da área onde habita, se envolvendo em brigas intermináveis, nas quais agride outros peixes (até mesmo os da sua espécie) com uma espécie de bocejo raivoso, abrindo muito sua bocarra, como se estivesse em uma violenta discussão.
Chamado em inglês de sarcastic fringehead (que traduzimos aqui como sarcástico-topetudo), o peixe conhecido cientificamente como Neoclinus blanchardi vive no fundo do mar do noroeste do oceano Pacífico, em uma região entre São Francisco e Baixa Califórnia nos EUA até o México. Suas tocas ficam entre 3 e 73 metros de profundidade.
Embora ele sempre brigue muito por seu território, o sarcástico-topetudo vive em qualquer tipo de abrigo que aparecer, desde conchas vazias de moluscos ao lixo humano jogado no oceano, como latas e garrafas. Seja o que for, o "barraqueiro" defende com fúria, atacando ferozmente os intrusos, até mesmo mergulhadores humanos.
Embora fringehead se refira ao excesso de tecido muscular, que fica proeminente na cabeça, e se eriça como um topete, o termo sarcastic é dúbio, mas acaba ganhando um significado especial quando analisamos a etimologia da palavra "sarcástico".
Se pegarmos pelo adjetivo grego "sarkastikos", chegaremos ao significado ao qual estamos acostumados, que é "amargo" ou "zombeteiro". Mas o termo vem, por sua vez, do verbo grego "sarkazein" que significa, literalmente, "morder os lábios com raiva, zombar", pois é composto de "sarx" (carne) e um sufixo que sugere a ação de "rasgar a carne com os dentes".
Como os sarcásticos (humanos ou peixes) nem sempre rasgam literalmente a carne de seus inimigos, a ação do N. blanchardi tem tudo a ver com o uso moderno da palavra "sarcástico", ou seja, criticar de forma irônica. Ou usar a boca para causar uma ferida.
Quando estão lutando por seu território, os sarcásticos-topetudos arreganham suas mandíbulas de cores vibrantes para intimidar seus oponentes. Isso faz com que a disputa se resolva com o tamanho da boca, que pode chegar a ser quatro vezes maior quando aberta, ou seja, o macho que for mais bocudo ganha a parada.
Porém, se o antagonista não tiver medo de boca grande e colorida, aí a dupla (no caso de outro peixe da espécie) irá iniciar um bate-boca literal, pois começarão a pressionar suas bocarras largas uma contra a outra.
“Embora possa parecer que os peixes estão se beijando, na verdade, eles estão defendendo agressivamente seu território uns dos outros”, afirma o site da organização conservacionista Oceana.
A fúria do sarcástico-topetudo começa já depois do acasalamento. Após assumirem cores vibrantes e dançarem animadamente para atrair suas fêmeas, os machos são finalmente escolhidos por elas. As sarcásticas entram na toca escolhida por eles, depositam seus ovos e os deixam lá para o macho fertilizar.
Pais solos a partir daí, eles assumem a responsabilidade de proteger os ovos até a eclosão dos filhotes (cerca de 20 dias depois) e também pela criação dos pequeninos, durante algumas semanas, até que eles aprendam a se alimentar sozinhos.
Isso torna esses machos extremamente territoriais, pois eles têm que proteger, primeiramente a sua toca para conquistar a fêmea e, depois disso, garantir a sobrevivência dos filhotes.