Estilo de vida
05/06/2024 às 12:00•3 min de leituraAtualizado em 06/06/2024 às 11:22
A exploração da Lua é assunto desde que União Soviética e Estados Unidos decidiram que reivindicariam o poderio espacial na década de 1960. Isso aconteceu devido à movimentação considerada crítica da China pelos americanos quando o programa espacial chinês construiu uma estação espacial na órbita da Terra e estabeleceu várias missões de órbita lunar e recuperação de amostras. Além disso, eles agendaram uma terceira fase do programa, prevista para acontecer em 2025, visando estabelecer uma estação de pesquisa lunar autônoma próximo ao polo sul da Lua.
Em resposta, os americanos intensificaram os projetos para lançar até setembro de 2026 a missão Artemis 3, que deverá pousar três astronautas no polo Sul lunar por meio da nave da SpaceX, consagrando, finalmente, a volta dos humanos à superfície da Lua.
Esse já é o resultado da Corrida Espacial acirrada do século XXI em que já vemos que a China e os EUA tem planos bastante ambiciosos para a Lua, de bases lunares a plataformas de exploração, elevador espacial e até mesmos a construção de casas 3D, parte do denominado Projeto Olimpo da NASA.
Mas isso não é tudo, muito pelo contrário. Uma startup vai tentar minerar hélio-3 da Lua, o combustível renovável do futuro.
O hélio-3 trata-se de um isótopo do hélio, um gás nobre, considerado relativamente raro na Terra, porém encontrado em grandes quantidades em alguns corpos celestes, principalmente na Lua. Isso acontece porque o satélite natural não possui atmosfera, portanto, não há nada que impeça que o hélio-3 atinja a superfície e seja absorvido por ela.
Os cientistas estimam que a Lua possui mais de um milhão de toneladas de hélio-3, sendo que 25 toneladas do elemento poderiam abastecer os EUA por um ano inteiro. Sua preciosidade está no fato de que se trata de um recurso renovável, e ter acesso ao hélio-3 significaria resolver os problemas na demanda energética que alguns países já estão enfrentando, como os EUA.
Afinal, é estimado que 60% da população mundial esteja vivendo em centros urbanos até 2050, o que significa que é preciso gerar meios de subsistência para um adicional de cerca de 2,5 bilhões de pessoas vivendo em áreas urbanas até lá. O forte crescimento da classe média nos países em desenvolvimento aumenta a procura de energia em cerca de 35%, enquanto a expansão da atividade comercial faz isso em 15%.
À medida que a população mundial e as taxas de consumo de energia crescem exponencialmente, há necessidade de aumentar o abastecimento de água, alimentos e energia; mas é muito difícil fazê-lo de forma sustentável considerando o longo espectro do capitalismo.
Alguns analistas estimam que há uma demanda potencial por hélio-3 no valor de cerca de US$ 400 milhões, por isso algumas empresas consideram ou estão mexendo seus pauzinhos para tentar colher o elemento da superfície lunar. A Interlune é um exemplo delas.
Em março desse ano, veio a público que Rob Meyerson, fundador da Interlune e ex-presidente da Blue Origin, e o arquiteto-chefe Gary Lai só esse ano pediram um aporte de US$ 15 milhões para a Interlune, fundada em 2022.
Com isso, os planos de negócio da empresa deixaram ainda mais claro que minerar hélio-3 da Lua é a nova corrida do ouro da Califórnia de 1848, quando reuniu um time com alguns dos maiores da indústria, incluindo o astronauta Harrison Schmitt, de 88 anos, o único geólogo que pisou na Lua desde o início das expedições na segunda metade do século XX.
Para a Interlune, o hélio-3 é o único produto lunar cujo preço justifica sua extração e transporte para a Terra, uma crítica indireta à mineração e extração de água do solo lunar. Para a dura tarefa, Gary Lai está construindo o protótipo de um robô na forma de uma pequena escavadeira acoplada a um forno para aquecer as amostras de regolito lunar a 600 graus Celsius, o suficiente para a liberação do gás ocluído, que será coletado em pequenos frascos.
É esperado que esse pequeno protótipo seja enviado à Lua até 2026, provavelmente por meio das missões comerciais do Provedor de Serviços Lunares, um programa da NASA para contratar empresas para enviar pequenos veículos robóticos e rovers para a Lua. Se bem sucedida, a exploração comercial exigirá veículos maiores, que serão transportados pelos cargueiros Starship da SpaceX.
"Depois, queremos colocar uma planta piloto em funcionamento até 2028 e, até 2030, começar a operacionalizar e devolver quantidades de hélio-3 para apoiar os mercados na Terra", disse Meyerson em comunicado.
O anúncio é considerado notável porque estamos falando sobre as implicações que podem gerar no tópico controverso envolvendo a economia cislunar, ou seja, a utilização dos recursos e localizações estratégicas entre a Terra e a Lua para ganhos econômicos.