Artes/cultura
24/01/2018 às 13:30•3 min de leitura
Você sabia que o Canadá e a Dinamarca — dois dos países mais desenvolvidos, pacíficos e com o menor índice de criminalidade do mundo — estão em guerra há décadas? Pois é, caro leitor, o motivo da contenda é a posse de uma minúscula ilha completamente desabitada e as batalhas são travadas por meio do derrubamento de bandeiras e troca de bebidas alcoólicas entre os soldados das duas nações. Bem bizarro...
A ilustre ilha pela qual canadenses e dinamarqueses vêm “brigando” há tanto tempo se chama Ilha Hans e conta com apenas 1,3 quilômetro quadrado de área. Esse pedacinho de terra improdutivo e deserto fica no Ártico, mais especificamente, no Estreito de Nares — que separa a ilha de Ellesmere, que pertence ao Canadá, do norte da Groenlândia.
Olha a bendita aí! (Wikimedia Commons/Toubletap)
Só que essas águas fazem parte do território marítimo da Dinamarca e do Canadá e a bendita ilha fica bem ali e ainda não tem um dono definido. O mais interessante é que a forma como os dois países brigam pela soberania do território é pra lá de peculiar — e, segundo muitos, consiste o confronto consiste na guerra mais “elegante” de que se tem notícia.
A coisa funciona mais ou menos assim: de tempos em tempos, soldados canadenses vão até a ilha, encontram uma bandeira hasteada pelos dinamarqueses e várias garrafas de schnapps, um tipo de bebida destilada produzida na Europa. Então, eles arrancam a bandeira dinamarquesa, hasteiam a canadense no lugar, levam o schnapps embora e deixam uma porção de garrafas de whiskey por lá.
Dinamarqueses "invadindo" a ilha (Quora/John Smith)
Daí, depois de alguns meses, os dinamarqueses voltam até Hans e fazem a mesma coisa, ou seja, trocam a bandeira canadense pela sua, pegam o whiskey e deixam mais schnapps para os “inimigos”, reiniciando o ciclo. Os militares inclusive deixam bilhetes uns para os outros, dizendo “Bem-Vindo à Ilha do Canadá” ou “Bem-Vindo à Ilha da Dinamarca” — e isso vem acontecendo desde o início dos anos 80! Por conta das “armas” empregadas, o conflito é conhecido como “Guerra do Whiskey” e, ao que tudo indica, a zoeira parece que não tem data para terminar.
Especificamente, de acordo com as leis internacionais, todos os países têm direito de declarar soberania de qualquer território que se encontre até 20 quilômetros de sua costa, e a Ilha de Hans fica em uma posição que a deixa dentro dos limites do Canadá e da Dinamarca. Na verdade, a disputa pela localidade se arrasta há mais de 200 anos e, em 1933, o Tribunal Permanente de Justiça Internacional decidiu que Hans era dos dinamarqueses e pronto.
Agora é a vez dos canadenses (Quora/John Smith)
Acontece que o tribunal foi dissolvido nos anos 40 e o acordo acabou indo para o vinagre. Mas, então, veio a Segunda Guerra Mundial e, depois dela, a Guerra Fria, e quando as coisas voltaram a se acalmar pelo mundo, os canadenses se lembraram da bendita ilha e resolveram brigar por sua posse de novo. Só que não existem recursos naturais em Hans, nem reservas de petróleo ou gás natural, então, por que é que esse cisco de terra é tão importante?
Essa briga vai longe... (Detechter)
Parece que a coisa toda tem a ver com o aquecimento global e o derretimento acelerado de gelo no Ártico, e a possível abertura de novas rotas marítimas na região — em locais que, de momento, mas provavelmente não por muito tempo, se encontram bloqueados pelo gelo. E quem detiver o direito de passagem poderá ganhar uma bela grana com o trânsito de embarcações e mercadorias.
Agora tá explicado, né? Só tomara que a briga por quem é dono ou não da ilhota continue assim, envolvendo apenas a troca de bebidas alcoólicas — e não tiros, bombas e agressões, você não concorda?