Ciência
15/08/2022 às 13:00•3 min de leitura
Desde 1942, quando foi criado o Chicago Pile-1, o primeiro reator nuclear artificial da história, o homem já provou que não estava apto para lidar com energia nuclear. Dez anos após o lançamento da nova invenção que revolucionaria a maneira de produzir energia, ocorreu um acidente na Chalk River Laboratories, em Ontário, Canadá. As hastes de combustível foram superaquecidas, resultando em um colapso que causou uma explosão de hidrogênio no prédio do reator, rompendo o selo do vaso e espalhando 4 mil metros cúbicos de água radioativa, cerca de 1 milhão de galões d’água contaminada.
E esse tipo de acidente continuou a se repetir de maneira cada vez pior e mais irresponsável, sendo que 57% dos incidentes ou acidentes graves acontecerem após o desastre de Chernobyl, em 26 de abril de 1986. Desde 2014, houve mais de 100 acidentes envolvendo usinas nucleares, dos quais 60% ocorreram nos Estados Unidos.
(Fonte: Enerji Gazetesi/Reprodução)
Apesar disso, como informou uma pesquisa de maio de 2022 do Statista, ainda existem 439 reatores nucleares em operação em 30 países ao redor do mundo, dos quais 92 deles estão localizados em território norte-americano.
Em agosto desse ano, o perigo das usinas voltou à tona quando o governo da Ucrânia acusou a Rússia de atacar o complexo nuclear de Zaporizhzhya, a maior instalação nuclear da Europa, que armazena 6 reatores de água pressurizada com energia suficiente para produzir eletricidade para até 4 milhões de residências no país.
O alerta foi acionado quando as autoridades ucranianas declararam que um vazamento catastrófico foi milagrosamente evitado, visto que o vazamento de poluentes tóxicos e radioativos, como o hidrogênio, pode resultar em consequências mortais e em larga escala.
(Fonte: The Guardian/Reprodução)
Usinas nucleares são extremamente nocivas para o meio ambiente, só nos EUA, elas liberam 2,56 bilhões de toneladas de dióxido de carbono – responsável pelas mudanças climáticas globais –, o equivalente à quantidade produzida por 449 milhões de carros, mais de três vezes o número de carros de passeio registrados no país em 2007, conforme dados da Enviroment America.
A exposição ao CO2 pode causar dores de cabeça, tonturas, inquietação, formigamento, falta de ar, sudorese, cansaço, aumento da frequência cardíaca, pressão arterial elevada, coma, asfixia e até convulsões. As instalações também emitem mercúrio, uma neurotoxina que agora é encontrada em todos os cursos d’água; além de arsênico, berílio, cádmio, cromo e níquel.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Usinas como a ucraniana, que usam combustível de urânio para produzir vapor e gerar eletricidade, acontecem transformações nucleares que convertem elementos principais em radioativos, como o hidrogênio, que é 57 vezes mais inflamável que o vapor de gasolina.
O Illinois PIRG mostrou em uma matéria, que 75% das usinas nucleares norte-americanas vazaram trítio, uma forma radioativa de hidrogênio que pode causar câncer e defeitos genéticos, durante o abastecimento de água.
Muito embora a maioria das usinas utilize de sistemas de resfriamento automático para evitar que os elementos explosivos vazem para a atmosfera, durante desastres naturais, falhas humanas ou interrupções no processo –, o sistema ameaça superaquecer, podendo causar um derretimento catastrófico do núcleo do reator.
(Fonte: TechnoBuddy/Reprodução)
Para especialistas, como Amelie Stoetzel, estudante de doutorado no Departamento de Estudos de Guerra do King’s College London, em entrevista à Al Jazeera, é mais preocupante o acúmulo de calor, um derretimento e um incêndio que pode liberar e espalhar radiação das estruturas de contenção do reator, do que uma explosão. Isso porque uma liberação de radiação é incontrolável, podendo seguir para qualquer lugar dependendo das condições climáticas.
No caso de Zaporizhzhya, a nuvem radioativa poderia atingir qualquer parte da Europa, porque a usina fica no meio do continente, podendo causar uma contaminação massiva.
Esse é apenas um dos riscos em larga escala que a existência de usinas nucleares oferecem, sem contar com as emissões regulares de radiação de baixo nível que acarretam problemas de saúde significativos a longo prazo para pessoas que ainda moram perto das instalações. Moradores da região de Hudson Valley, onde está a Indian Point Energy Center (Nova York, EUA), também precisam se preocupar com a falta de planos viáveis de evacuação em caso de um acidente nuclear.
Ao longo dos anos, a energia nuclear mais do que provou ser uma tecnologia extremamente cara, repleta de impactos preocupantes na saúde e no meio ambiente, com rejeitos difíceis de serem armazenados, podendo permanecer perigosos por milhares de anos.