Estilo de vida
03/06/2023 às 08:00•2 min de leitura
Um idioma dado como "perdido" está sendo revivido nos Estados Unidos, graças aos esforços de uma nova geração de falantes do Kouri-Vini. A língua, que surgiu séculos atrás no período da escravidão, é uma mescla entre o francês e outros idiomas, como os africanos, e a cultura local do Estado da Luisiana, nos EUA. Na época, o dialeto ficou conhecido como Crioulo da Luisiana.
No passado, a palavra crioulo era utilizada para se referir ao escravo negro nascido nas Américas. Foram eles quem começaram a juntar palavras de várias línguas diferentes, criando um novo idioma que seria considerado "inferior" pela nobreza local. Com o passar dos anos, a quantidade de falantes do Kouri-Vini foi diminuindo cada vez mais — mas agora um grupo vem se dedicando a manter viva a língua de seus antepassados.
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O músico Cedric Watson vem buscando levar o Kouri-Vini à sua audiência. (Fonte: Bijou Creole/Reprodução)
Embora sejam poucos os conhecedores da língua quase perdida, ainda há aqueles dispostos a torná-la popular e conhecida não apenas na região, mas também no entorno do Estado da Luisiana. De estudantes a estudiosos, passando por artistas e até pessoas comuns da população local, existem alguns movimentos tentando manter a chama do idioma acesa.
É este o caso do músico Cedric Watson, que assumiu a missão de levar a língua de seus antepassados para o público que acompanha sua banda. Em seus shows, é bastante comum ouvi-lo cantar em francês, idioma bastante falado no Estado norte-americano, e trocar para o Kouri-Vini na canção seguinte.
Watson, que já foi nomeado ao Grammy, é tido como um dos maiores talentos atuais da música Zydeco, um estilo musical originado no início do século XX no sudoeste da Luisiana. O Zydeco foi criado por falantes do Crioulo da Luisiana e nativos da região, misturando ritmos próprios destes povos com blues e rhythm & blues. Além do inglês e do francês, este estilo de música — que se utiliza bastante do som do acordeon — também é cantado em Kouri-Vini.
Ainda que a língua tenha hoje pouco mais de 6 mil falantes, atualmente, Watson é um dos maiores exemplos desta geração, que vem buscando dar um novo fôlego ao Crioulo da Luisiana, rebatizado como Kouri-Vini, para evitar a confusão com outros estilos musicais, tradições culinárias e etnia.
Conforme foi crescendo, Watson explica que viu os falantes de Kouri-Vini morrerem pouco a pouco, levando com eles o idioma de raízes franco-africanas. Foi então que ele decidiu usar seu palco para dar espaço à língua, cada vez mais próxima de ser completamente perdida, e alcançar mais pessoas.
A estratégia parece estar funcionando. "Quando me juntei à banda, em 2011, apenas me identificava como Afro-Americana," disse Desiree Champagne, membro do grupo musical de Watson, à BBC. "Agora, depois de anos de viagens e aprendizados, também me identifico como Crioula." Ela explica que é importante preservar a cultura e identidade para entender quem somos, de onde viemos e do que realmente somos parte.
Hoje quase perdido, o idioma surgiu no Século XVIII, quando pessoas recentemente escravizadas começaram a misturar suas próprias línguas de origens africanas com o francês dos colonizadores. "Era a primeira língua que todos aqueles africanos, vindos de diferentes tribos e sistemas de casta, falavam quando eram escravizados," explica Watson.
Segundo o músico, demorou um pouco até que as bases do novo idioma fossem finalmente firmadas, mas em um dado momento foi organizado o Crioulo da Luisiana, hoje conhecido como Kouri-Vini. O novo título vem da pronúncia dos verbos "correr" e "vir," respectivamente "courir" e "venir", em francês.