
Ciência
28/10/2023 às 12:00•2 min de leitura
Em 1935, enquanto os Estados Unidos ainda atravessavam a Grande Depressão, os militares trabalhavam com um orçamento limitado. Então, o capitão Paul Logan, Intendente Geral do Exército dos EUA, teve a brilhante ideia de preparar uma nova sobremesa para seus soldados: um chocolate que não fosse tão delicioso assim.
Logan colaborou com a empresa Hershey's para criar essas revolucionárias rações, mas afirmando que o produto deveria "ter um sabor um pouco melhor do que uma batata cozida apenas". O objetivo é que existisse uma barra repleta dos nutrientes mais essenciais, como carboidratos, proteínas, gorduras e minerais, para reabastecer as tropas em emergências — mas que não fosse irresistível a ponto dos soldados comerem mais do que o necessário.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Segundo o Museu Nacional Smithsonian de História Americana, Paul Logan conduziu até 300 experimentos para a criação da nova receita de chocolate, manipulando os ingredientes muitas vezes para encontrar a fusão correta. Em 1937, o capitão e a Hershey's optaram por uma mistura de farinha de aveia, leite em pó desnatado, manteiga de cacau e licor de chocolate. Porém, tudo era feito sem muito açúcar, deixando um sabor mais seco e amargo.
Além do gosto um pouco desagradável, Logan tinha outras condições para a criação do chocolate: ele não poderia pesar mais de 120 gramas, de forma que pudesse ser transportado no bolso dos soldados. Também seria necessário ser uma fonte de energia forte e eficiente, e permanecer sólido em altas temperaturas para não derreter e ser desperdiçado.
Quem assumiu a função foi o químico-chefe da Hershey's, Sam Hinkle. Ele planejou uma criação que era equivalente a uma rocha em textura e toque, e que os soldados teriam que cortar com uma faca afiada antes de consumir — tendo em vista que era quase impossível de morder. O guia de consumo "Ração D" criado pela empresa sugeria mordiscar a barra ao longo de meia hora ou então deixá-la dissolver em água como bebida.
Cada barra fornecia valiosas 600 calorias para os soldados, que eram orientados a comê-las apenas como último recurso, para evitar a fome em circunstâncias extraordinárias. Hinkle também modificou a receita para incorporar vitamina B1 na fórmula, o que seria útil em climas tropicais, onde as tropas poderiam ser suscetíveis a deficiências vitamínicas e doenças associadas.
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(Fonte: Wikimedia Commons)
Surpreendentemente, dada a quantidade de barras de ração produzidas pela Hershey's, esses chocolates de guerra tiveram que ser moldados à mão, pois eram densos e ricos demais para que as máquinas da época tivessem alguma precisão. Satisfeita com as amostras de Hinkle, a Hershey's produziu 90 mil barras entre abril e junho de 1937.
O resultado foi tão satisfatório que a ração foi testada em diferentes ambientes, desde na Antártida até as Filipinas. Com o tempo, no entanto, os comandantes militares decidiram que queriam uma opção mais apetitosa para seus soldados — mas não tão atraente assim. Essa necessidade levou à criação da barra de chocolate tropical Hershey's, que vinha em blocos de 30 e 60 gramas, em 1943.
Embora a produção da Ração D tenha terminado logo após o fim da guerra, a barra tropical permaneceu um alimento básico nas guerras subsequentes. O chocolate alimentou astronautas da missão Apollo 15 e foi distribuída aos soldados até 1991. Até hoje, exemplares desse alimento podem ser vistos pelos visitantes do Museu Nacional de História Americana.