Ciência
03/01/2018 às 03:00•3 min de leitura
Você já ouviu falar a respeito da combustão humana espontânea? Como o próprio nome sugere, se trata de um fenômeno no qual o corpo de pessoas entra em chamas sem que haja uma origem aparente para o fogo. Até onde se acredita, o evento possivelmente acontece como resultado de reações químicas que ocorrem no organismo do indivíduo sem que exista uma fonte de calor externa.
O primeiro registro de combustão espontânea em humanos data de 1663 e foi descrito pelo médico dinamarquês Thomas Bartholin. O relato trata de uma mulher que queimou enquanto dormia, e o mais curioso é que seu colchão — feito de palha — não teria sofrido danos. Em dez anos as ocorrências devem ter se popularizado, pois um francês chamado Jonas Dupont chegou a reunir vários casos em uma publicação, a “De Incendiis Corporis Humani Spontaneis”.
Os primeiros relatos surgiram há séculos
Por volta dos anos 1800, a combustão humana espontânea se tornou uma preocupação real, e diversos escritores famosos — entre eles Charles Dickens, Mark Twain e Washington Irving, por exemplo — citaram o fenômeno em suas obras. De lá para cá, centenas de casos foram registrados, e um dos mais conhecidos é o do médico aposentado J. Irving Bentley, cujo corpo foi encontrado em sua residência na Pensilvânia, nos EUA, em 1966.
Bem, na verdade, o que acharam do pobre homem foi uma parte de sua perna. Todo o resto havia se transformado em cinzas, e a única evidência do incêndio foi um enorme buraco no chão onde o corpo chamuscado foi descoberto. Veja a seguir:
Tudo o que restou do corpo de J. Irving Bentley
Além do caso de Bentley, outro relato curioso foi o de Jean Lucille Saffin, uma britânica que ardeu em chamas em 1982. Segundo testemunhas, ela estava na sala de casa acompanhada do pai quando, de repente, o homem percebeu um clarão e, ao se voltar para a filha, viu que havia chamas saindo de sua boca, como se ela fosse um dragão.
A mulher acabou não resistindo aos ferimentos e morreu no hospital, e nenhum dano foi verificado em sua casa. Mais recentemente, em 2013, um bebê indiano virou manchete depois de ser encontrado em chamas pela família várias vezes — despertando a suspeita de que se tratava de mais um caso de combustão humana espontânea.
Na prática, para que um corpo entre em combustão, é necessário que ele seja submetido a uma intensa e forte fonte de calor e exista alguma substância inflamável por perto — e, em condições naturais, nenhum dos dois “ingredientes” está presente no organismo humano. Aliás, o nosso corpo é composto por algo em torno de 60 a 70% de água! Assim, entre as teorias mais populares está a que a chama é provocada pelo acúmulo de metano no intestino e a ação de enzimas.
Mais uma suposta vítima da combustão humana espontânea
Outra teoria seria que o fogo seria iniciado como resultado do acúmulo de eletricidade estática no organismo ou, ainda, devido à exposição a uma fonte de força geomagnética. Inclusive tem um cara chamado Larry Arnold que acredita que o fenômeno seja provocado por uma nova partícula subatômica chamada “pyroton” que, segundo ele, interage com as células do corpo e provoca miniexplosões.
O fato é que existem inúmeros relatos de casos de combustão espontânea e, na maioria das vezes, as vítimas sofrem extensas queimaduras no exterior de seus corpos, principalmente na parte superior. E quando é possível examinar o interior, os danos aos órgãos internos e tecidos são bem menores. Então, o que afinal acontece com quem manifesta o fenômeno — se é que ele existe de verdade?
Uma explicação para a combustão humana espontânea seria o Efeito Pavio — ou seja, que o corpo, em condições específicas, quando exposto a uma fonte de calor ou de fogo, pode funcionar como o pavio de uma vela.
As velas, como você sabe, consistem de um pavio envolto em cera que, por sua vez, é composta por ácidos graxos inflamáveis — que mantêm a chama queimando. No caso dos humanos, a gordura corporal agiria como ingrediente inflamável, enquanto as roupas ou cabelos da pessoa seriam o pavio.
E queimou...
Agora, imagine que um sujeito encosta sem querer em uma ponta de cigarro, por exemplo, e sua camisa começa a pegar fogo. Pode acontecer de a chama atingir a pele e fazer com que a gordura derreta e se espalhe, empapando as roupas e cabelos da vítima, alimentando as chamas lentamente — como acontece com a cera das velas.
Essa seria a razão de muitas vezes os corpos serem extensivamente destruídos, enquanto o ambiente permanece livre de maiores danos. Além disso, com respeito ao fato de boa parte das vítimas sofrerem mais queimaduras na parte superior do corpo, isso se daria porque, no caso de uma pessoa sentada, o tronco apresenta temperatura mais alta do que os membros inferiores. E você, caro leitor, o que acha desse estranho fenômeno?
*Publicado em 8/6/2016