Ciência
28/11/2023 às 04:30•2 min de leitura
Por conta da covid-19, muitas pessoas passaram a lidar com alguns efeitos secundários da doença, inclusive a perda do olfato. Inclusive, estudos estimam que mais de 20 milhões de pessoas perderam o olfato ou o paladar em 2021 somente nos Estados Unidos. Entre esses indivíduos, 5 milhões recuperam apenas parcialmente ou não recuperaram de todo seus sentidos.
Embora algumas intervenções médicas, como medicamentos antivirais ou treinamentos de olfato, possam ajudar na recuperação, nem todas as pessoas reagem direito a esses estímulos. Por conta disso, pesquisadores têm batalhado para desenvolver um novo tratamento para esse tipo de sequela.
(Fonte: GettyImages)
Para lidar com a perda de olfato em pacientes com covid-19, cientistas desenvolveram um novo procedimento médico não invasivo que envolve uma injeção no pescoço. Chamado de bloqueio no gânglio estrelado, um coquetel anestésico é injetado em um aglomerado de nervos que faz parte do sistema nervoso autônomo, que controla funções corporais involuntárias — como a frequência cardíaca e suor.
Pesquisadores da Jefferson Health, dos Estados Unidos, testaram o procedimento em 37 pessoas com parosmia (perda de olfato pela covid-19), das quais 22 relataram ter notado o retorno do olfato normal após uma semana de injeção. 18 desses 22 indivíduos relataram uma melhora ainda mais significativa dentro do período de um mês. Após três meses, houve uma melhora média de 49% em todos os pacientes.
As descobertas foram apresentadas na reunião anual da Sociedade Radiológica da América do Norte. Em comunicado à imprensa, o autor do estudo e professor de radiologia musculoesquelética da Jefferson Health, Adam Zoga, destacou os dados positivos da sua pesquisa. "Ficamos surpreendidos com alguns resultados, incluindo uma resolução de quase 100% da fantosmia (presença de cheiro inexistente) em alguns pacientes, ao longo do ensaio", disse.
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A perda ou alteração do olfato também pode ocorrer em outras infecções virais, como em um resfriado comum, mas geralmente se resolve rapidamente. No caso da covid-19, os cientistas ainda não encontraram respostas para o motivo da situação permanecer crítica mesmo após a infecção desaparecer, porém, existem algumas teorias.
Em primeiro lugar, é possível que essas sequelas aconteçam devido à inflamação contínua no nariz, que diminui o número de neurônios sensoriais olfativos ou pode reconectá-los geneticamente para que os sinais olfativos não cheguem ao cérebro. A injeção de um coquetel anestésico em pacientes com covid-19 já foi usada anteriormente para aliviar problemas de olfato associados à covid prolongada, demonstrando um sucesso significativo em testes de pequena escala.
O novo estudo é o maior ensaio já feito até o momento, fazendo o uso de tomografia computadorizada ou ultrassom para guiar a injeção no gânglio estrelado na base do pescoço. Esse tipo de procedimento precisa ser feito com muita precisão e cuidado, uma vez que existem grandes vasos sanguíneos que transportam sangue vital para o cérebro.
O bloqueio do gânglio estrelado também tem sido usado para tratar outras condições, como dores de cabeça crônicas, dor do membro fantasma e até mesmo arritmia cardíaca. O coquetel anestésico inclui uma pequena dose de corticosteroide como pomada para qualquer inflamação nos nervos causada por qualquer coronavírus remanescente.