Ciência
29/05/2018 às 05:01•5 min de leitura
O cinema é certamente um dos meios de entretenimento mais populares do planeta. Além de constituir uma indústria que gira bilhões de dólares todos os anos, os filmes também podem ser criações artísticas que renderam à categoria o título de “Sétima Arte”. Sem dúvida alguma, a produção das películas marcou profundamente a sociedade humana durante o século XX e continua através do século XXI.
Independentemente do tipo de filme que você gosta, todo mundo sabe a importância dos efeitos especiais no cinema. E por efeitos especiais, não falamos apenas nas dezenas de milhares de soldados e orcs em obras como “O Senhor dos Anéis: o Retorno do Rei” ou nas batalhas espaciais da franquia “Star Wars”, mas sim em viabilizar certas situações que “enganem” a audiência e mostrem nas telonas – e hoje em dia telas e telinhas – coisas com as quais apenas poderíamos imaginar até então.
Esta série de matérias — criada pelos nossos colegas do Tecmundo — vai tratar da história dos efeitos especiais e da evolução dessa prática, que não está presente apenas no cinema, mas também na televisão, no teatro, nos video games e outras plataformas. Vamos mostrar também como os efeitos especiais se desenvolveram através do século XX e passaram de “truques” mecânicos e ilusões de óptica para o uso extensivo de computação gráfica na criação de mundos virtuais que povoam as mentes de espectadores no mundo todo.
Viagem à Lua: Cenários, próteses e maquiagens também são efeitos especiais
Uma atriz fazendo o papel da monarca condenada se aproxima do carrasco, coloca sua cabeça sobre o bloco de execução e, nesse momento, a câmera para de filmar
Para começarmos a entender melhor o trajeto e a evolução dos efeitos especiais no cinema, é bom saber que existem vários tipos deles, cada um com sua aplicação específica, e que as tecnologias envolvidas com eles mudaram bastante com o passar do tempo. Uma coisa, porém, não podemos esquecer: efeitos especiais não são apenas imagens geradas por computador ou grande explosões, mas sim qualquer artimanha usada para criar uma “realidade” que só vai existir na visão do espectador.
Foi em 1895 que o primeiro efeito especial do cinema chegou aos olhos do público. Nesse fim de século XIX, os filmes estavam ainda engatinhando – era uma tecnologia completamente nova e, em alguns casos, até um pouco assustadora para certas pessoas, que ficavam impressionadas com aquelas imagens em movimento. Foi no curtíssimo filme “The Execution of Mary Stuart”, que nos dias de hoje poderia ser chamado de GIF com seus apenas 18 segundos.
Nessa película, dirigida pelo diretor Alfred Clark e produzido por ninguém menos que o famoso inventor Thomas Edison, os espectadores puderam testemunhar a encenação da decapitação da rainha Maria da Escócia. No filme, uma atriz fazendo o papel da monarca condenada se aproxima do carrasco, coloca sua cabeça sobre o bloco de execução e, nesse momento, a câmera para de filmar, os atores figurantes e o carrasco ficam imóveis e a atriz é substituída por um boneco representando a rainha.
Isso que começou como uma manobra simples foi ganhando evidência e, claro, se beneficiou das mentes criativas de diretores, produtores e outros profissionais do cinema
Assim que a câmera volta a funcionar, o carrasco desce impiedosamente o machado sobre o pescoço de Maria da Escócia – nesse caso específico, um boneco vestido como a rainha – e acaba com sua vida (cinematograficamente falando, é claro). Pela primeira vez um efeito especial foi usado para criar uma ilusão de que alguém realmente estivesse perdendo a cabeça diante das câmeras de modo que todos os pescoços de verdade continuassem totalmente intactos.
Isso que começou como uma manobra simples, em um vídeo de meros 18 segundos, foi ganhando evidência e, claro, se beneficiou das mentes criativas de diretores, produtores e outros profissionais do cinema que elevaram esses simples experimentos com câmeras no século XIX para o patamar de espetáculos visuais de encher os olhos. Ainda assim, truques como esse continuam sendo usados em produções de vídeo dos mais diversos tipos ainda com mais capricho e realismo.
Efeitos ópticos ou fotográficos envolvem técnicas de posicionamento de câmera, de iluminação e de filtros que criam as ilusões necessárias para gerar a “magia” do cinema
Quando falamos de efeitos especiais, devemos dividir a prática em duas principais, especialmente com a ascensão relativamente recente dos filmes digitais: existem os chamados efeitos visuais, que são aqueles feitos sempre em pós-produção, ou seja, após as filmagens terem sido encerradas. Nessa fase, elementos virtuais são adicionados às cenas registradas por meio de computadores, algo bastante comum nas produções hollywoodianas atuais.
A outra parte são os efeitos especiais em si, que por sua vez também se subdividem em duas categorias: efeitos mecânicos, físicos ou práticos são aqueles realizados durante as filmagens e usam dispositivos mecânicos que interagem com a cena. É o caso de cenários, modelos em miniatura, maquetes, bonecos animados e abrangem também maquiagem e o uso de próteses para alterar a aparência de atores.
Miniaturas de naves espaciais foram usadas nas filmagens de "Star Wars"
A segunda categoria dos efeitos especiais são os efeitos ópticos ou fotográficos, que podem ser usados durante as filmagens ou também na pós-produção, e envolvem técnicas de posicionamento de câmera, de iluminação e de filtros que criam as ilusões necessárias para gerar a “magia” do cinema e levar aos espectadores histórias que ultrapassam os limites do realismo.
Truques de perspectiva de câmera davam a impressão que o ator Harold Lloyd estava realmente pendurado em um alto prédio no filme "O Homem Mosca", de 1923
O reconhecimento da importância dos efeitos especiais aconteceu cedo na história do cinema: em 1928, no jantar inaugural da Academy of Motion Picture Arts and Sciencies, a instituição que criou nada menos que a premiação do Oscar, deu ao primeiríssimo vencedor de melhor filme (o drama “Asas”, sobre a I Guerra Mundial) uma placa de “Melhor Efeitos de Engenharia”, quase como uma parabenização extra pelo feito.
Porém, só 10 anos depois, em 1938, a Academia agraciou a Paramount com um prêmio extraordinário de efeitos especiais pelo filme “Lobos do Norte”, do diretor Henry Hathaway. No ano seguinte, a honraria se tornou uma categoria fixa no Oscar com o nome de “Melhores efeitos especiais” e levava em conta também aplicações de áudio. A partir de 1964 as partes visual e auditiva foram separadas e continua assim até os dias de hoje.
Foi na década de 1900 que os efeitos especiais realmente começaram a se espalhar pelas produções cinematográficas, que ainda estavam um mundo distante de serem como são hoje, mas começavam a cair nas graças de artistas dos mais diversos tipos, de fotógrafos a diretores de teatro.
O resultado inspirou toda uma geração de cineastas que explorou ainda mais as mais diversas técnicas para criar a “magia” do cinema
Alguns descobriam macetes de efeitos especiais acidentalmente, como Georges Méliès, que por um travamento em sua câmera que filmava a rua, viu um caminhão virar um carro funerário e um homem virar uma mulher, tudo usando o mesmo princípio dos 18 segundos da decapitação da rainha Maria da Escócia.
Méliès foi um dos grandes pioneiros dos efeitos especiais e sua grande obra de arte é “Viagem à Lua”, que misturou praticamente tudo o que se conhecia na época em termos de efeitos especiais, como animação, stop motion, o uso de miniaturas, truques de câmera e de iluminação. O resultado inspirou toda uma geração de cineastas que explorou ainda mais as mais diversas técnicas para criar a “magia” do cinema.
Cena do filme "Viagem à Lua": revolução nos efeitos especiais
Os próximos capítulos da história dos efeitos especiais no cinema vão contar um pouco sobre como foram desenvolvidas as técnicas que fizeram com que os filmes caíssem no gosto popular e encantassem milhões e milhões de pessoas através do século XX. Vamos mostrar as maiores proezas realizadas pelos cineastas, diretores, produtores e até atores na hora de criar cenas inacreditáveis até para os menos céticos.
História dos efeitos especiais no cinema #1: o início na virada do séc. XIX via TecMundo