Ciência
31/07/2018 às 05:00•4 min de leitura
Após sua invenção no final do século XIX, quando assustou muita gente com seu realismo e o avanço nas técnicas de efeitos especiais do começo do século XX, o cinema chegou a uma fase em que finalmente ganhou uma popularidade impressionante, caindo no gosto das pessoas como forma de entretenimento relativamente barata. Junto com essa onda de novidades, duas delas revolucionaram a Sétima Arte: sons sincronizados e cores, o que não deixam de ser – isso mesmo – efeitos especiais!
Os filmes já viam a grande necessidade de possuir diálogos. Nessas antigas películas mudas, as falas eram mostradas por meio de frases escritas, como cartazes
Desde sua concepção, no finalzinho do século XIX, o cinema dizia respeito a imagens. Imagens em movimento, como fotografias animadas, que com o tempo foram ganhando estruturas mais complexas, sequências, uma narrativa e, com isso, passaram a contar histórias cada vez mais interessantes. Essa necessidade de se comunicar melhor com os espectadores gerou uma demanda de recursos para que as tramas pudessem ficar mais claras para quem assistia aos filmes.
Muita gente já deve ter visto pelo menos trechos dos primeiros longas-metragens do começo do século XX: eles eram mudos. Ainda não havia uma tecnologia que permitisse a gravação e a reprodução de sons de maneira sincronizada com as imagens em movimento. Para incrementar um pouco a exibição, geralmente alguma música era tocada em paralelo à exibição da película.
Além disso, os filmes já viam a grande necessidade de possuir diálogos. Nessas antigas películas mudas, as falas eram mostradas por meio de frases escritas, como cartazes, que apareciam intercalando as cenas. Outras coisas que precisavam ser ditas, como partes de uma narração, também eram incluídas usando frases, pois nada podia ser falado. Ainda.
Desde o final do século XIX, grandes mentes envolvidas com a tecnologia do cinema tentavam criar algo que permitisse o uso de som sincronizado com as imagens em movimento dos filmes. Thomas Edison, um amante da indústria cinematográfica ainda em seu começo e inventor do primeiro gravador e reprodutor de áudio da história, tentou juntamente com outros profissionais criar algo que misturasse imagem e som.
O cinema era consumido cada vez por um número maior de pessoas em salas de exibição, mas o cinetofone foi muito importante para a história da Sétima Arte
O resultado foi um dispositivo chamado cinetofone, uma mistura entre o fonógrafo de Edison e um cinetoscópio, um instrumento de projeção interna inventado por William Kennedy Laurie Dickson, engenheiro-chefe das empresas do inventor. Edison tinha uma concepção sobre o cinema que ia contra aquilo que ele acabou se tornando – para ele, deveria ser algo para consumo individual, e não para exibições coletivas.
Talvez o inventor fosse apenas um visionário que estava com a cabeça avançada mais de um século na frente: enquanto salas de cinemas foram lotadas por 100 anos, atualmente muitos dos filmes e das séries produzidos são assistidos individualmente, em dispositivos móveis como smartphones e tablets. No fim das contas, Edison não estava tão errado, só adiantado demais em sua previsão.
Seja como for, o cinema era consumido por um número cada vez maior de pessoas em salas de exibição, mas o cinetofone foi muito importante para a história da Sétima Arte. Hoje em dia, apenas um único registro por cinetofone sobreviveu – ele foi feito entre os anos de 1894 e 1895.
Na mesma época, outros dispositivos que prometiam sincronizar som com imagens e exibir filmes não mudos foram criados, como o Phonorama, o Chronophone e o Phono CinémaThéatre. Os problemas de todos eram a facilidade na perda de sincronia entre som e imagem, a falta de amplificação para que um grande público pudesse apreciar o áudio ao ver um filme em uma grande tela e o limite de tempo de reprodução de som, que mal passava dos 5 minutos.
O avanço na tecnologia permitiu a criação de dispositivos capazes de reproduzir sons pré-gravados na extensão e no volume desejados para agradar os espectadores
Enquanto não era possível realizar a ambiciosa ideia de sincronizar áudio com as imagens, cineastas incrementavam cada vez mais suas produções com trilhas sonoras, agora já pensadas especificamente para elas e, muitas vezes, reproduzidas ao vivo por orquestras completas em enormes dalas de cinema lotadas. Onde não cabia tanta gente, um único pianista fazia as vezes de reprodutor do som que deveria acompanhar um filme.
O avanço na tecnologia permitiu a criação de dispositivos capazes de reproduzir sons pré-gravados na extensão e no volume desejados para agradar os espectadores e evitar que donos de cinemas mais modestos precisassem pagar músicas toda vez que fossem exibir uma película. A mais importante entre essas invenções foi feita pelo Dr. Lee de Forest, que patenteou uma série de criações relacionadas a áudio de filmes.
Com um dispositivo eletrônico capaz de amplificar sinais elétricos – e, por consequência, sons –, ele abriu sua própria produtora e passou a entregar ao público milhares de vídeos curtos contendo som amplificado e sincronizado perfeitamente com as imagens em movimento, graças a um sistema desenvolvido por três alemães que gravava os sinais de áudio na própria película em que as cenas eram registradas.
Com o lançamento do sistema de som de Lee de Forest, diversas salas de cinema adotaram o dispositivo e passaram, cada vez mais, a veicular filmes com áudio para o deleite dos espectadores, que ganharam um recurso extra capaz de tornar as películas ainda mais realistas.
A adoção de sons em filmes é, sim, um efeito especial, tanto que essa qualidade era premiada juntamente com as proezas visuais pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas – o Oscar. Apenas alguns anos depois foi que as categorias se separaram e passaram a refletir a complexidade de cada um desses elementos em um filme.
Olhando por outro lado, o cinema precisou se reinventar para passar a produzir filmes com som. Diversos problemas se tornaram problemas na hora das gravações, como as câmeras barulhentas que interferiam no áudio capturado ou mesmo a diminuição da mobilidade delas – devido aos dispositivos de captação de som –, que limitava o que poderia ser feito em algumas cenas.
Essa criatividade aprendeu muito com as transmissões das rádios, que já dominavam essa arte em seus programas que dependiam apenas do áudio
Outras coisas precisaram ser desenvolvidas, como os efeitos sonoros que acompanhavam certas cenas ilusórias – o barulho de motores que não necessariamente estariam ligados para as filmagens, o som de explosões que na realidade eram apenas encenadas, e muito mais. Essa criatividade aprendeu muito com as transmissões das rádios, que já dominavam essa arte em seus programas que dependiam apenas do áudio.
O uso de som no cinema – mais especificamente de gravações que eram reproduzidas de maneira sincronizada com as imagens – foi um salto de importância incalculável para a história dos efeitos especiais no cinema, assim como a adoção de imagens coloridas, como vamos ver na próxima parte dessa série de matérias. Essas duas ferramentas certamente foram cruciais para que essa arte se consagrasse e culminasse na Era de Ouro do cinema.
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História dos efeitos especiais no cinema #3: um novo mundo repleto de sons via TecMundo