Ciência
05/12/2019 às 13:23•3 min de leitura
É praticamente impossível você ter crescido no Brasil sem ter ouvido falar em Alberto Santos Dumont. Conhecido por todos nós como o Pai da Aviação, o mineiro nascido no século XIX foi muito mais do que a famosa alcunha que o acompanha até hoje. É justamente no além do termo que a série brasileira Santos Dumont, da HBO, quer mostrar toda a genialidade do brasileiro, que é pouco conhecido por nós mesmos, mas que deveria ser uma figura modelo para todo o nosso povo.
Para entender um pouco mais sobre a série, o MegaCurioso conversou com Estevão Ciavatta, um dos diretores da série, que nos contou como surgiu o interesse de contar essa história e de como tudo foi criado para que as pessoas tivessem um olhar mais atento à figura de Santos Dumont.
Estevão nos conta que sempre foi apaixonado pelo personagem de Santos Dumont, mas que pouco conhecia da história dele. “Eu cresci nos anos 1970, que tinha aquela nota de 10 mil cruzeiros, era uma nota que ninguém tinha, a nota mais valiosa, e tinha o Aeroporto Santos Dumont, e avenidas e praças pelo Brasil”. Foi de uma conversa com um outro diretor, Fernando Acquarone, que surgiu a ideia de apresentar o projeto à HBO, principalmente ao produtor Roberto Rios, que também é apaixonado por Santos Dumont. Após ser aprovada, o trabalho de pesquisa começou.
“Eu li pelo menos uns 10 livros biográficos sobre Santos Dumont. Fui em Champs-Élysées, na casa dele em Paris. Fui também em Saint-Cloud, para ver qual era a distância que ele teve que percorrer até a Torre Eiffel, e fui na casa dele aqui em Petrópolis”, conta Estevão. Todo o processo mostra que a pesquisa foi bastante profunda e intensa, contando com a ajuda de várias pessoas, como foi o caso do Alan Calassa.“O Alan Calassa me ajudou muito na pesquisa, ele trouxe toda uma questão tecnológica e técnica sobre os projetos dos Santos Dumont que a gente foi também incorporando na série”, diz Ciavatta.
A história começa na infância de Santos Dumont, pois, de acordo com o diretor, todas as facetas inventivas começaram a se apresentar nessa época. “Acho que é na infância que ele forma a sua personalidade, que desenvolve seus interesses por mecânica, pelo voo dos pássaros, o contato com a natureza, e é isso que de fato faz ele ser o primeiro homem a voar com o avião”.
Santos Dumont conseguia pensar tão fora da caixa, relata Ciavatta, que o inventor ficou decepcionado ao chegar em Paris no final do século XIX e ver que a cidade não tinha objetos voadores, nem nenhum cenário futurista como ele achava que seria. “O que ele fez foi realizar essa Paris, esse mundo que ele imaginou que era possível vendo os livros do Júlio Verne, observando os pássaros e conhecendo a mecânica das máquinas”.
Um grande trabalho que pode ser visto na série foi a reconstrução dos inventos de Santos Dumont, que foram minuciosamente produzidas, utilizando até impressora 3D para recriar alguns itens necessários para o funcionamento do Maquinário. “Nós tivemos que refazer todos os projetos técnicos. O único projeto que existia era o Demoiselle, que ele disponibilizou para quem quisesse construir o seu avião. Todos os outros ele queimou na França quando foi preso durante a Primeira Guerra Mundial.”
(Fonte: HBO Brasil / Divulgação)
A máquina de café que aparece no primeiro episódio da minisséria é uma máquina que foi encontrada na cidade de São Carlos e que, durante a produção, foi descoberto que tinha vindo da fazenda de Santos Dumont. “A máquina que aparece ele mexendo era a própria máquina que o Santos Dumont mexia”, revela Ciavatta.
Para Estevão, a série apresentava dois desafios, que era mostrar a personalidade pouco conhecida de Santos Dumont e, ao mesmo tempo, manter no ar o mistério que o próprio personagem gostava de manter, já que ele era uma pessoa reservada. O diretor afirma que quem for ver a série vai ver um indivíduo “determinado, forte, sensível, com um senso estético muito apurado e com uma determinação descomunal”.
Um grande ensinamento de Santos Dumont, que o diretor leva consigo e entende que deve ser repassado a todo o Brasil, é o de que “se você vai fazer alguma coisa, coloque toda sua energia sobre ela e faça bem feito. Ele ensinou pra gente que nada é impossível, mas que pra se chegar lá tem que trabalhar muito e se dedicar muito, ou seja, é pôr a mão na massa e ir lá e fazer”. Tanto isso ficou introjetado na equipe que o Estevão relatou que, diante de todas as dificuldades que enfrentaram durante as filmagens, eles adotaram o seguinte lema: “frente ao impossível, tentaremos”.
É com essa energia de determinação e superação que a série já disponível na HBO traz luz à icônica figura de Santos Dumont, mostrando como ele é importante não só para a história do mundo, mas como deve ser muito mais valorizado por nós brasileiros.