Conheça 'O Conto de Genji', o primeiro romance literário do mundo

20/07/2020 às 16:003 min de leitura

Durante o período Heian da história japonesa, vivido entre os anos 794 e 1185, uma aristocrata inspirada seria capaz de revolucionar completamente a história da arte ao trazer um inovador romance literário denso, complexo e com um fator narrativo objetivo, abrindo portas para uma revolução completa no universo da escrita que seria objeto de estudos e adaptações até a época atual.

Murasaki Shikibu, artisticamente conhecida como Lady Murasaki, escreveu o clássico japonês O Conto de Genji, que logo se destacou como uma das obras de literatura oriental mais importantes do conjunto dos escritos.

A publicação ganhou uma tradução em inglês apenas no século 20, quando passou a ser distribuída como material de leitura básico em diversas escolas do Japão, e com uma de suas cenas servindo de inspiração para a arte da cédula de dois mil ienes.

De porta em porta e fragmentado

Para distribuir seu material, Lady Murasaki passou a bater de porta em porta de seus conhecidos da corte imperial da época, divulgando fragmentos de contos profundos, com personagens muito bem construídos e que instigavam a curiosidade do leitor para permanecer nessa jornada com a autora. Escrito em capítulos, a obra, que logo passou a ser conhecida como Genji Monogatari (O Conto de Genji, em tradução livre), não demorou para ser comentada como referência na narrativa de histórias.

(Fonte: Genji Monogatari/Reprodução)(Fonte: Genji Monogatari/Reprodução)

Ao concluir o texto, Murasaki Shikibu compilou o manuscrito em um romance de 54 capítulos que se destacam pela coesão narrativa em um roteiro que caminhava em tempo real com o período em que foi escrito e no qual os mais de 400 personagens apresentados envelheciam e evoluíam gradativamente mesmo que não fossem protagonistas centrais dos respectivos episódios.

A jornada do príncipe Hikaru Genji

Hikaru Genji (Genji Brilhante ou Genji Iluminado, em tradução livre), era um nobre filho de um imperador do período Heian, ilegítimo e segundo na linha de sucessão, mas amado da mesma forma que seu irmão. As historietas apresentadas narram o cotidiano e a vida amorosa do príncipe, a partir da perspectiva própria e de diversos outros coadjuvantes, que são determinantes para a progressão da trama.

(Fonte: Genji Monogatari/Reprodução)(Fonte: Genji Monogatari/Reprodução)

Como trama central, é apresentado o drama de Genji ao ser rebaixado para um cidadão comum, quando Kokiden, um conselheiro ciumento e invejoso do imperador, declara que a nação entrará em ruínas se o filho bastardo ascender ao trono. Dessa forma, sem as regalias inerentes ao seu antigo status social, o herói começa a agir como um infiltrado na corte, descobrindo planos, intrigas e inúmeros conflitos entre os membros da alta sociedade.

A participação da mulher na literatura

Durante os séculos 10 e 11, a literatura era direcionada apenas para a elite japonesa, privando a sociedade majoritária do conhecimento e dos estudos avançados. 

Apesar de fazer parte do meio, pois seu pai era um respeitado governador provinciano, Murasaki Shikibu decidiu exibir seus dons em uma época na qual a linguagem também era pouco acessível, já que o chinês, idioma comum da alta estirpe e maior transmissor de mensagens voltadas para os discursos de maior relevância, era restrito aos homens.

(Fonte: Getty Images/Reprodução)(Fonte: Getty Images/Reprodução)

Mesmo escrevendo a maior parte de seu trabalho em japonês, a intimidade com a aristocracia e o bom convívio com seu pai auxiliaram a escritora a adquirir conhecimentos de chinês e das relações políticas da corte, agregando bastante valor ao seu texto e ofertando a oportunidade de trazer um material rico, fiel e contemporâneo de forma inédita na história da literatura.

Atemporalidade de O Conto de Genji

Bastante respeitado entre as obras japonesas, o romance de Lady Murasaki foi amplamente utilizado em estudos e como inspiração para consagrados autores modernos, como o vencedor do Nobel de 1968, Yasunari Kawabata, que afirmou, em discurso, que Genji Monogatari "é, em particular, o ponto mais alto da literatura japonesa. Até hoje não existiu uma peça de ficção comparável a ele". 

Com diversas adaptações nos mais variados tipos de mídias ocidentais, O Conto de Genji configura como um romance influente também para o cenário mundial, especialmente ao ganhar sua primeira tradução, feita em 1925, por Arthur Waley, que foi revisada logo em seguida pela eterna Virginia Woolf.

Com cerca de 750 mil palavras de muita consistência e inovação em técnicas narrativas, o texto também funciona como um importante símbolo de luta feminina, travada em uma época restrita para as mulheres, na qual a incessante busca pelo aprendizado e conhecimento tornou-se instrumento de vitória para consolidar uma literatura feita para todos os públicos.

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