Projeto Azorian: o mais ambicioso resgate da história dos EUA

17/09/2020 às 15:003 min de leitura

Em 1º de março de 1968, o submarino soviético K-129 partiu da base naval de Petropavlovsk, na Península de Kamchatka, na Rússia, para ocupar sua estação de patrulha a nordeste do Havaí. Armado com 3 mísseis balísticos SS-N-4 Sark, cada qual carregando ogivas nucleares de 1 megaton, ele estava pronto para disparar em caso de ruptura da tensão causada pela Guerra Fria.

Em 8 de março daquele ano, quando estava próximo da ilha de Oharu, no oceano Pacífico, o submarino de 100 metros de comprimento sofreu um naufrágio, com 98 membros de tripulação, e foi parar no fundo do oceano.

Apesar de todas as possibilidades e as teorias criadas, é desconhecido o motivo pelo qual a embarcação afundou. No entanto, o que despertou mais curiosidade é a maneira como a Marinha dos Estados Unidos conseguiu identificar o submarino. Datados de 1970, os arquivos da Agência Central de Inteligência (CIA), que foram desclassificados em 2010, afirmavam que foi a tecnologia altamente avançada do sonar subaquático SOSUS da Marinha que o detectou e que os soviéticos só não fizeram isso antes porque não tinham um equipamento à altura.

O plano ultrassecreto

Uss Halibut. (Fonte: Pinterest/Reprodução)Uss Halibut. (Fonte: Pinterest/Reprodução)

De acordo com os registros, a Base Naval de Point Sur, ao sul de Monterey, na Califórnia, foi capaz de isolar uma assinatura sônica de baixa frequência que a explosão do submarino causou. Com base em coordenadas geográficas, eles descobriram que o naufrágio do K-129 aconteceu próximo da Linha Internacional de Data, que separa o continente americano da Oceania e da Ásia.

Em meados de julho de 1968, a Marinha dos Estados Unidos iniciou uma operação chamada Sand Dollar, cujo objetivo era enviar o submarino USS Halibut até o local do naufrágio para poder fotografar os destroços do K-129. Usando câmeras robóticas controladas remotamente, o Halibut levou 3 semanas de busca visual para detectar o submarino soviético. Ao todo foram tiradas mais de 20 mil fotos dos destroços a fim de proporcionar um panorama detalhado aos militares.

Em 1 de julho de 1969, a CIA mobilizou a Equipe de Projetos Especiais da subdivisão da Diretoria de Ciência e Tecnologia para gerenciar o que eles estavam chamando de Projeto Azorian, que visava recuperar o submarino soviético sob extremo sigilo.

Em 19 de agosto daquele ano, com a aprovação do então presidente Richard Nixon, o diretor da CIA Richard Helms passou informações de todos os aspectos do projeto para a equipe de John Parangosky e Ernest Zellmer, os chefes da missão, e um grupo muito seleto de pessoas dentro da Casa Branca e da alta cúpula de inteligência dos Estados Unidos.

A garra

Hughes Glomar Explorer. (Fonte: WEXT Radio/Reprodução)Hughes Glomar Explorer. (Fonte: WEXT Radio/Reprodução)

Em 1970, por pouco o Projeto Azorian não foi cancelado devido ao custo de mais de US$ 500 milhões aos cofres públicos dos Estados Unidos. Isso foi evitado devido aos benefícios e às vantagens que o material tecnológico que as armas nucleares soviéticas e a recuperação de dados criptografados poderiam trazer.

Em outubro daquele ano, ficou claro para os engenheiros da CIA que a única maneira viável de erguer um submarino que pesava 1,75 mil toneladas do fundo do oceano Pacífico era deslizando uma espécie de garra mecânica através de guinchos reforçados e montados em um navio especificamente construído para esse propósito.

Em 16 de novembro de 1971, a Global Marine, empresa pioneira em operações de perfuração offshore em águas profundas, foi contratada pela CIA para desenvolver, construir e operar o navio Hughes Glomar Explorer sob o pretexto de que se tratava de uma embarcação para mineração profunda – assim manteria a mídia entretida e longe de especulações que pudessem desconfiar os soviéticos. O nome foi emprestado pelo empresário bilionário Howard Hughes, cujas empresas já eram contratadas para financiamento de centenas de armas militares, satélites e aeronaves da franquia dos Estados Unidos.

O resgate profundo

A operação começou em 4 de julho de 1974, assim que o Hughes Glomar Explorer chegou ao local de recuperação. Durante 14 dias, o trabalho foi focado em apenas conseguir "agarrar" o K-129 no fundo do mar através de uma armação equipada com vários tubos de aço de 10 metros de altura acoplados às garras mecânicas. O objetivo era transportar o submarino para o porão maciço do navio ainda embaixo da água.

Em 18 de julho, Richard Helms deu ordens para que eles se preparassem para uma possível destruição emergencial de material sensível que pudesse comprometer a missão, caso os soviéticos tentassem embarcar no navio através de helicópteros. 

Os relatórios desclassificados pela CIA apontaram que só em 1991 eles descobriram que o embaixador soviético Anatoly Dobrynin avisara a Marinha Soviética sobre uma operação de resgate dos EUA, mas que achava improvável que fosse do K-129, visto que nem eles mesmos sabiam seu exato paradeiro.

(Fonte: Alchetron/Reprodução)(Fonte: Alchetron/Reprodução)

Em 1º de agosto de 1974, o Hughes Glomar Explorer começou a erguer o submarino do fundo do mar em um processo que levou 8 dias para ser concluído. No entanto, de acordo com o major-general Roland Lajoie, a garra sofreu uma falha catastrófica e deixou que dois terços do K-129 afundassem de novo, sem chance de recuperação.

Apesar disso, o Projeto Azorian foi considerado um grande sucesso e o maior golpe de inteligência dos Estados Unidos durante a Guerra Fria. Mesmo com a aplicação do Ato de Liberdade de Informação, nem tudo sobre a missão foi desclassificado pela CIA, principalmente quais informações de inteligência foram recuperadas, além dos dois torpedos nucleares e objetos do submarino.

Os cadáveres de 6 dos tripulantes resgatados receberam uma cerimônia fúnebre com honras militares, depois foram enterrados no mar em um caixão de metal por causa dos índices de radioatividade que eles poderiam oferecer.

Em 1992, foram entregues à Rússia a gravação da cerimônia e os destroços recuperados do K-129 como parte de um acordo diplomático.

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