Zwarte Piet: o personagem natalino da Holanda cheio de esterótipos raciais

20/12/2020 às 05:003 min de leitura

São Nicolau, figura que inspirou o famoso Papai Noel, é muito famoso na Europa, com seu festival sendo comemorado desde a Idade Média. Mas na Holanda, o bom velhinho tem um ajudante que vem causando polêmicas há um tempo.

Zwarte Piet, literalmente Pete Negro, é retratado como um homem negro de lábios avantajados e vermelhos, cuja função é ajudar a embrulhar presentes para crianças que foram boazinhas e punir aquelas que se comportaram mal.

(Fonte: Nacho Calonge/Getty Images/Reprodução)
(Fonte: Nacho Calonge/Getty Images/Reprodução)

Durante as comemorações holandesas, muitos cidadãos se vestem como Piet, pintando o rosto de preto e colocando perucas crespas, uma prática racista que tem gerado muitas críticas, principalmente para um país que luta contra seu passado colonialista e de escravidão.

Sinterklass e Zwarte Piet

O gentil Nicolau, mais conhecido como Sinterklass no continente europeu, é um homem de túnica e barba brancas, que distribui presentes para meninos e meninas que foram bons no dia 05 de dezembro, seu aniversário.

(Fonte: Dean Mouhtaropoulos/Getty Images/Reprodução)
(Fonte: Dean Mouhtaropoulos/Getty Images/Reprodução)

Já os travessos são punidos por figuras diferentes em cada país, como os demônios malignos Krampus e Belsnickle, que podem açoitá-las com varas, comê-las vivas e até mesmo levá-las diretamente para o inferno.

Na Holanda, a punição fica nas mãos de Pete Negro, que mesmo não sendo tão assustador como um demônio, ainda aplica um castigo um tanto quanto macabro, colocando os travessos em sua sacola vazia de brinquedos e os sequestrando.

(Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)
(Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)

A origem de Piet 

Embora não esteja exatamente claro como esta tradição começou, muitos acreditam que ela tenha vindo de um livro infantil do começo do século 19. Em 1800, já se falava de um assistente de Sinterklass, mas foi a partir de 1820 que a figura passou a ser descrita como um negro de cabelo encaracolado e recebeu o nome tão controverso.

A primeira ilustração surgiu em 1850, juntamente com mais detalhes do personagem: um mouro espanhol trapalhão responsável por carregar os presentes e dar um jeito nas crianças mal comportadas.

(Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)
(Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)

Segundo alguns estudiosos, a história poderia ter surgido originalmente da mitologia alemã, com rituais nos quais os indivíduos escureciam as faces para ficarem parecidos com terríveis criaturas de aparência demoníaca.

A celebração e o impacto racista de Pete Negro na Holanda

A partir de novembro, os holandeses passam a realizar vários desfiles em homenagem a Sinterklass, e é claro que seu auxiliar não é deixado de fora. Muitas pessoas brancas pintam seu rosto de preto (o infame blackface), além de usarem batom vermelho, perucas afro e trajes estranhos. Como se tudo isso já não fosse ruim, elas passam a imitar um sotaque afro-caribenho, para enfatizar mais ainda a origem de Zwarte.

(Fonte: Ying Tang/NurPhoto/Getty Images/Reprodução)
(Fonte: Ying Tang/NurPhoto/Getty Images/Reprodução)

Em 2011, o movimento para se livrar da tradição do blackface ao retratar Pete Negro passou a ganhar forças. Porém, os manifestantes desta campanha foram presos de forma brutal enquanto realizavam protestos pacíficos em algumas cidades.

Em 2019, 18 cidades da Holanda tiveram manifestações contra Zwarte Piet, mas a tradição é tão enraizada no país que muitos argumentam que o assistente não deve ser descontinuado, acreditando que é parte de uma celebração infantil muito preciosa.

(Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)
(Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)

“Essa doutrinação blackface é algo com que todos na Holanda cresceram. Isso significa que juízes, policiais, o primeiro-ministro, todas as pessoas de quem dependemos para impedir o racismo, provavelmente estão com o rosto pintando de preto nessa época, entretendo seus filhos”, afirmou Jerry Afriyie, um ativista negro holandês e um dos principais responsáveis pela campanha contra a caracterização de Piet.

Além disso, em 2015, um relatório das Nações Unidas sobre a Eliminação da Discriminação Racial concluiu que o ajudante de Sinterklass é “retratado de uma maneira que reflete estereótipos negativos de afrodescendentes”, assim como “um vestígio da escravidão”, apelando para que o governo holandês eliminasse a prática.

(Fonte: Romy Arroyo Fernandez/NurPhoto/Getty Images/Reprodução)
(Fonte: Romy Arroyo Fernandez/NurPhoto/Getty Images/Reprodução)

E embora o costume não tenha sido abandonado completamente, mudanças estão aos poucos sendo realizadas. Em alguns desfiles, os atores agora apresentam apenas manchas pretas nas faces, passando a ideia de que o rosto de Pete Negro foi escurecido pela fuligem das chaminés.

(Fonte: Romy Arroyo Fernandez/NurPhoto/Getty Images/Reprodução)
(Fonte: Romy Arroyo Fernandez/NurPhoto/Getty Images/Reprodução)

É claro que ainda é um caminho muito longo a percorrer, e a conscientização completa sobre o problema pode demorar para surgir, mas cada pequeno passo é importante para barrar estereótipos raciais e garantir que todos possam aproveitar e serem incluídos de forma saudável nas festas de final de ano.

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