Ciência
07/07/2021 às 05:22•3 min de leitura
Após ter dois navios transportadores de café do Porto de Santos explodidos por submarinos alemães em abril de 1917, o Brasil se viu obrigado a entrar na Primeira Guerra Mundial ao lado dos Estados Unidos pela Tríplice Entente — encabeçada por Rússia, França e Reino Unido.
O ato foi enxergado como uma declaração de guerra da Tríplice Aliança, comandada pelas forças alemãs, ao Brasil. Sem muita tradição de guerras intercontinentais, a Marinha brasileira foi convocada a lutar no Mediterrâneo, onde protagonizou um dos seus únicos e marcantes confrontos durante o conflito armado: a Batalha das Toninhas.
(Fonte: Wikimedia Commons)
A participação do Brasil na Primeira Guerra Mundial foi bastante curta, durando apenas alguns meses entre 1917 e 1918. Venceslau Brás, então presidente do Brasil, optou por muito tempo manter a neutralidade, mas viu esse cenário ficando mais improvável com o passar dos acontecimentos recentes envolvendo as embarcações nacionais.
Quando o conflito estourou em 1914, os países da América do Sul tentaram se manter distantes. Porém, como tinham economia altamente atrelada às atividades de países europeus, acabaram tendo que tomar lado em algum momento. E tudo começou por uma disputa comercial no Oceano Atlântico.
Durante o período de guerra, a Inglaterra decidiu bloquear o litoral da Alemanha para transações. Para revidar, os alemães decidiram atacar não só embarcações de países pertencentes à Entente como também de nações neutras — incluindo quatro navios brasileiros.
Durante a Conferência Interaliada em Paris, em 1917, ficou definido qual seria a participação do Brasil na Primeira Guerra, que deveria contribuir para o auxílio médico de soldados do grupo e participar de missões de monitoramento e ataque a submarinos e minas em alto mar.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Como maneira de dar suporte aos seus aliados, o Brasil enviou uma frota de navios ao outro lado do Atlântico, onde o comandante do cruzador Bahia, Fernando Frotin, recebeu ordens de navegar pelo norte de Dacar e adentrar a orla do Mediterrâneo. Essa região era conhecida por ser o coração da guerra e, portanto, extremamente perigosa.
A embarcação brasileira foi alertada pelos britânicos para permanecer atenta, visto que os submarinos alemães já haviam afundado o HMS Britannia, navio britânico que era encarregado de acompanhar a frota brasileira durante essa viagem. Ao entrarem no estreito de Gibraltar, uma movimentação estranha foi percebida em volta da embarcação.
Sem tecnologia que auxiliasse na detecção de inimigos, os brasileiros acreditaram terem visto algo semelhante ao periscópio de um submarino rival. Alertado da presença de alemães, Frotin deu ordens para que todos abrissem fogo contra as entidades e eliminassem qualquer tipo de ameaça.
Foi então que a Marinha notou o enorme erro que havia cometido e a participação brasileira na Primeira Guerra ficou marcada por um gigante fracasso e erro de percepção.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Quando o bombardeio acabou, a animação pela tentativa de derrotar um rival em alto mar foi substituída por um silêncio constrangedor. Algo estava errado. A Marinha havia percebido que algo teria saído errado em sua operação no Mediterrâneo. Por fim, não existia qualquer tipo de submarino alemão pelos arredores.
Quando o fogo cessou, grandes quantidades de sangue passaram a subir e se dissolver na água salgada. Na realidade, os canhões do Bahia atingiram um cardume de toninhas — parentes próximos dos golfinhos — e eliminaram 46 espécimes. O desastre já estava feito e todo o ataque acabou sendo em vão.
Os animais, que só estavam rodeando inocentemente os navios que circulavam pela região, acabaram sendo confundidos com outras embarcações e terminaram cruelmente mortos. Até os dias hoje, é possível ver grupos de toninhas nadando pelas mesmas regiões do Mediterrâneo.
Ironicamente, esse erro foi batizado de "Batalha das Toninhas" e visto como motivo de piada por muitos anos quanto a participação das forças armadas brasileiras na guerra. O navio Bahia seguiu inteiro até o final da Primeira Guerra e só foi afundar mesmo em 1945, vítima de um acidente com a munição interna da embarcação.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Por mais piada que a Batalha das Toninhas tenha se tornado no imaginário coletivo da população brasileira, o acidente envolvendo a Marinha nacional esteve longe de ser algo completamente inusitado na história de conflitos armados e relacionado à incompetência de nossas forças armadas.
Em primeiro lugar, os navios brasileiros não haviam ido para a guerra para destruir submarinos alemães e por isso não estavam preparados para tal feito. Sem sonar ou qualquer tecnologia de detecção, o encarregado por monitorar os arredores era um vigia da frota.
Com tempo de ação pequeno, a única coisa a ser feita era atacar e depois esperar o resultado. Na época, a Marinha chegou a ser muito questionada. Entretanto, vale ressaltar que até mesmo a Marinha Real Inglesa — que já estava equipada com tecnologia de ponta — cometeu o mesmo erro em 1982, quando confundiu duas baleias com submarinos argentinos na Guerra das Malvinas.