Ciência
19/07/2021 às 12:00•3 min de leitura
Em 1897, a Liga dos Mineiros Unidos da América (UMWA) conseguiu ganhar a greve de carvão mole de 1897, e a que aconteceu dois anos depois em Nanticoke, Pensilvânia (EUA), demonstrou o poder que os sindicatos poderiam ter contra uma subsidiária de uma das grandes ferrovias do país.
Em 1902, apesar dos salários um pouco melhores, os mineiros de carvão antracito ainda trabalhavam em condições perigosas, eram pagos de maneira errada e viviam endividados com os barões do carvão. Então, naquela manhã de segunda-feira de 12 de maio, quando os apitos soaram na Pensilvânia para sinalizar o início das atividades, os mais de 147 mil homens e meninos não responderam o chamado para às minas.
Eles não apareceriam nem no dia seguinte, tampouco nos 162 dias que viriam, enquanto milhares de casas, escritórios, fábricas e ferrovias dependiam daqueles homens.
Começava ali a maior revolução trabalhista da história dos Estados Unidos.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Os pedidos do sindicato eram expressos: os mineiros queriam reconhecimento e um certo grau de controle sobre o setor carvoeiro e pagamento semanal para que não sofressem mais golpes ou atrasos.
O confronto se tornou federal em 8 de junho, quando o recém-eleito Theodore Roosevelt assumiu o gabinete do presidente William McKinley, após ele ter sido assassinado por um ex-operário insatisfeito. Ou seja, Roosevelt tinha um caso tão delicado em mãos quanto o seu antecessor, por isso foi aconselhado a “pegar leve” e deixar que os mineiros se resolvessem.
Mas o presidente não conseguiu, pois nunca se satisfez com a inércia, além de se considerar quase pronto para testar até onde iria seu poder presidencial. Ele enviou Carroll Wright, Secretário do Trabalho, para sugerir um acordo entre os líderes da UMWA e com os executivos das empresas de carvão. Mas os barões do carvão rejeitaram as propostas de Wright, e Roosevelt não tinha controle legal para aplicá-las mesmo assim.
(Fonte: Smithsonian Magazine/Reprodução)
Em setembro, a greve já havia afetado o setor turístico e o país começou a perder ainda mais dinheiro. Os Correios ameaçavam fechar, as escolas não conseguiriam mais continuar abertas após o Dia de Ação de Graças, e os empresários inescrupulosos compravam a maior parte do carvão em estoque para cobrar quatro vezes o preço normal.
As lavanderias, padarias, cafés e restaurantes aumentaram seus preços, bem com os proprietários de apartamentos alugados. Os donos de terras venderam suas madeiras, e os moradores arrancavam lascas de madeira de locais públicos para usarem como combustível.
Um inverno de doença, miséria e milhares de cadáveres virando gelo se aproximava dos Estados Unidos.
(Fonte: Time Toast/Reprodução)
O presidente consultou e ouviu governadores e senadores sobre como encerrar a greve de maneira pacífica, porém não havia nada que o governo nacional pudesse fazer para deter o cartel das corporações de carvão.
No começo de outubro, Roosevelt interviu diretamente apelando ao patriotismo dos executivos. Eles responderam que fechariam um acordo se os mineiros fizessem primeiro, mas nenhum deles cedeu.
Antes de tomar alguma atitude radical, como nacionalizar as minas de carvão, o então presidente decidiu contatar seu inimigo e magnata J. P. Morgan, com quem brigava nos tribunais pela Northern Securities. Morgan também temia um inverno caótico e que a hostilidade pública em relação à indústria do carvão pudesse se espalhar para suas outras empresas mais lucrativas.
Elihu Root, ex-advogado corporativo e secretário de guerra de Roosevelt, se juntou a Morgan durante 5 horas em Manhattan em outubro daquele ano para criar uma comissão independente para ouvir as queixas dos proprietários de minas e seus funcionários.
J. P. Morgan. (Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)
Morgan insistiu e incentivou os executivos a assinarem o acordo, e assim eles fizeram. Dias depois, os dirigentes sindicais e os grevistas também o fizeram, pondo um fim na greve mais tensa e grave dos Estados Unidos.
Em março de 1903, o relatório da Comissão de Greve de Carvão Antracito divulgou que os proprietários concordaram que a jornada de trabalho dos mineiros fosse reduzida de 10 para 9 horas diárias, e eles concederam um aumento retroativo de 10% nos salários aos mineiros, admitindo que um aumento de 10% no preço do carvão era provável.
A comissão criou um conselho de conciliação permanente e ambos os lados da indústria do carvão chegaram à conclusão de que saíram vitoriosos. Apesar da rixa, Theodore Roosevelt agradeceu Morgan pela ajuda, mas o magnata nunca o respondeu.