Ciência
22/08/2021 às 05:00•2 min de leitura
Em 1970, o governo ditatorial brasileiro instituído pelo Golpe de 1964 levou um susto quando o candidato socialista Salvador Allende foi eleito como presidente do Chile. Os militares esperavam que Jorge Alessandri, um político conservador de direita, levasse a melhor, e não seu concorrente revolucionário.
Apesar de ter o intuito de travar uma guerra usando “armas” puramente democráticas, o presidente Allende se viu do lado errado do mundo. Além de estar em meio à Guerra Fria, ele estava no mesmo continente que a potência capitalista dos Estados Unidos e também era vizinho do Brasil, que havia instaurado uma ditadura no desespero de conter uma “ameaça comunista” que nunca existiu.
Naquela mesma época, a imprensa brasileira passou a chamar o Chile de “Nova Cuba da América Latina”. E, uma vez que havia milhares de exilados brasileiros vivendo em Santiago, o país despontou como a maior ameaça regional ao Brasil. Foi então que os militares brasileiros e o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) passaram a contemplar maneiras de lidar com essa situação.
Augusto Pinochet. (Fonte: Wikiwand/Reprodução)
Segundo o jornalista Roberto Simon, autor do livro O Brasil contra a democracia: a ditadura, o golpe no Chile e a Guerra Fria na América do Sul, em entrevista à BBC Brasil, a maneira que o governo brasileiro viu de derrubar Allende e sua democracia foi apoiando os conspiradores de grupos neofascistas, como o Patria y Libertad, que pretendiam fazer isso. Uma das táticas, inclusive, era isolar democraticamente seu vizinho até o momento de concretização do golpe militar.
“O Brasil foi o primeiro país a reconhecer a junta militar liderada por Augusto Pinochet e ajudou na montagem do aparato de repressão do governo dele. O país garantiu apoio político, diplomático e econômico ao governo de Pinochet”, revelou Simon.
Os militares estavam prestes a apoiar um regime que dilacerou todos os direitos humanos, responsável por encarcerar mais de 80 mil pessoas e torturar outras 30 mil. Segundo números oficiais, mais de 3 mil pessoas foram brutalmente assassinadas pelo governo de Pinochet.
(Fonte: Iconografia da História/Reprodução)
E, ao passo que fazia essas interferências políticas, o governo brasileiro ainda servia como modelo para o Chile, visto que o Brasil havia derrubado o governo legítimo de João Goulart e criado um regime militar que promovia um suposto crescimento ordenado. Na década de 1970, o Brasil se tornou o país que mais crescia no mundo percentualmente, e os chilenos viam isso como uma grande lição e meta.
Além de endossar um assassino e torturador, os militares apoiaram um Pinochet que foi reconhecido como um dos políticos mais corruptos da história do Chile — e quem descobriu isso não foi a esquerda e nem a direita, mas sim o Senado dos Estados Unidos.
O político tinha fortunas escondidas em paraísos fiscais e sua polícia secreta estava envolvida até o pescoço com o narcotráfico, além de diversos outros crimes e violações.
Do início ao fim, os militares apoiaram tudo isso.