Agitação racial nos EUA: por que a revolta dos negros não tem fim?

30/08/2021 às 02:003 min de leitura

Todos os anos durante a última metade da década de 1960, nos longos verões quentes dos Estados Unidos, a agitação social tomou conta do país através de protestos violentos generalizados nos mesmos moldes que aconteceram em decorrência do assassinato de George Floyd em 2020.

Essa inquietação e revolta é antiga porque o histórico de assassinato sistemático do povo negro norte-americano devido ao racismo estrutural acontece de maneira contínua na história dos EUA através das mãos — raramente punidas — dos policiais brancos.

Segundo dados do Center for Disaster Philanthropy, ser morto pela polícia é uma das principais causas de morte de homens e meninos negros no país, dentre um em cada mil casos. Eles têm quase três vezes mais probabilidade de morrerem nas mãos da polícia do que homens e meninos brancos. Além disso, a taxa também cobre os latinos, as mulheres e meninas negras, e também nativos americanos.

O antigo pano de fundo

(Fonte: CrossCut/Reprodução)(Fonte: CrossCut/Reprodução)

Quando morreu o corretor de seguros afro-americano Arthur McDuffie, em 17 de dezembro de 1979, após ser perseguido pela polícia do condado de Dade em cima de sua motocicleta, a dúvida cresceu sobre as circunstâncias de sua morte.

Os policiais no local alegaram que McDuffie havia sido vítima de um acidente, no entanto, o relatório do legista divulgado pela imprensa apontava que os ferimentos eram incompatíveis com um acidente de moto. Então os policiais envolvidos começaram a confessar sua participação no assassinato e encobrimento do crime.

(Fonte: US News/Reprodução)(Fonte: US News/Reprodução)

Conforme um dos depoimentos, a vítima teria se rendido voluntariamente, mas os policiais o espancaram com suas lanternas mesmo assim, resultando em ferimentos que causaram fratura craniana de 25 centímetros de comprimento. Foram os policiais que responderam ao chamado, quando McDuffie já estava morto, que montaram a cena do crime para que tudo parecesse um acidente.

Os responsáveis pelo crime eram os policiais Ira Diggs, Michael Watts, William Hanlon e Alex Marrero, que acumulavam 47 reclamações de cidadãos negros e 13 investigações internas que nunca foram punidas. Apesar da quantidade de provas, incluindo confissões de alguns dos envolvidos, um júri composto de seis pessoas, todas brancas, absolveu os policiais, em 17 de maio de 1980.

Ciclo interminável

(Fonte: The Washington Post/Reprodução)(Fonte: The Washington Post/Reprodução)

Como consequência, quase 5 mil negros se reuniram no centro de Miami para protestar contra outro incidente de injustiça baseada em raça. As pessoas expressaram sua raiva e cansaço através de atos de violência contra propriedade pública e privada, visando atingir empresas brancas.

Após três dias, as ruas já estavam silenciosas de novo com a movimentação da Guarda Nacional chamada pelo ex-governador da Flórida Bob Graham, com um saldo de 18 mortos, 400 feridos, 800 pessoas presas, e mais de US$ 80 milhões em danos patrimoniais.

Em uma narrativa padrão diante da impunidade da polícia branca e dos atentados contra a vida o povo negro, as agitações civis continuaram em episódios como Watts 1965, Detroit 1967, Washington 1968, Queens 1973, Miami 1980, Los Angeles 1992, Cincinnati 2001 e Ferguson 2014.

(Fonte: National Geographic/Reprodução)(Fonte: National Geographic/Reprodução)

Todos os relatórios de comissões de investigação para apuramento dos fatos apontaram a desigualdade econômica, discriminação racial e a agressão policial como as causas dos levantes violentos.

O curso das agitações raciais é determinado pela maneira como o governo lida com a situação, e sua reincidência reforça o trabalho falho das autoridades ao olhar para o problema através de lentes desproporcionais. 

A violência considerada sem sentido parte do princípio da revolta e “do gritar para ser ouvido”, principalmente após anos de minimização dos impactos do racismo e preconceito estruturais diante do ciclo de esquecimento, descoberta e inação do governo.

O que acontecia na década de 1960 e no ano passado são vistos como pontos de reflexão sobre a história e o impacto dos protestos violentos na nação americana, mas principalmente servem para ensinar sobre a injustiça da vida negra ocorrendo em segundo plano, enquanto o mundo finge que nada está acontecendo.

Para historiadores norte-americanos, para evitar a violência na rua, seria preciso que a “América de todos” reconhecesse onde comete suas injustiças.

Fonte

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