Estilo de vida
16/11/2021 às 06:30•3 min de leitura
No final deste mês, novembro, o aclamado diretor Ridley Scott (Blade Runner 2049, Alien Covenant) vai levar para os cinemas a polêmica história por trás da grife de luxo Gucci, focando no chocante assassinato envolvendo o herdeiro e ex-chefe da marca, Maurizio Gucci (1948-1995), e sua ex-exposa, Patrizia Reggiani, também conhecida como Lady Gucci. Em meio a um legado marcado por tensão, o crime apenas evidenciou o glamour, as traições e as constantes disputas familiares que culminaram na criação de uma das maiores referências nos anais da moda.
Nascido em 1881, Guccio Gucci, fundador original da marca, veio de uma família de fabricantes de artigos de couro em Florença (Itália) e sentiu a primeira atração por artigos de luxo em 1897, quando trabalhava como porteiro no Savoy Hotel, em Londres. De volta à terra natal, ele investiu tudo que tinha para aprimorar seu talento como criador de peças de bagagem voltadas para a elite, e assim fundou, em 1921, a loja que carregou seu nome, com sede na Via della Vigna Nuova (Roma).
À medida que a empresa foi crescendo e outros países europeus tiveram acesso à marca, Gucci adicionou itens de seda, sapatos de couro e bolsas de mão a seu portfólio, mas viu o embargo causado pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918) afetar a distribuição de materiais considerados essenciais para a fabricação dos produtos. Logo, artigos de couro foram parcialmente substituídos por pequenas peças de diamantes, que acabariam simbolizando a assinatura da companhia de luxo.
(Fonte: Head Topics / Reprodução)
Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a Gucci voltou a se erguer no cenário comercial e reformulou totalmente seu conceito, passando a adotar o bambu japonês e a pele de porco como principais componentes dos artigos, anunciando as famosas listras verdes e vermelhas como fundo do design da logomarca. Quinze dias antes da morte de Guccio, em 1953, a Gucci tinha aberto sua primeira filial nos Estados Unidos e, com isso, o negócio foi passado para os três herdeiros de sangue: Aldo, Vasco e Rodolfo.
Foi então que, com a morte de Vasco Gucci, em 1974, a Era de Ouro da Gucci começou a entrar em derrocada, e as primeiras intrigas entre os irmãos Aldo e Rodolfo, que dividiram os negócios igualmente entre si, repercutiram de uma forma sem precedentes.
Ao perceber que seu tio Rodolfo não estava ajudando com a empresa, os filhos de Aldo decidiram iniciar uma campanha Gucci voltada para perfumes, estimulando o pai a criar uma loja separada das filiais originais para guardar 80% do lucro obtido. Não satisfeito, Paolo, um dos filhos rebeldes, autodeclarou-se presidente da marca ao criar sua própria Gucci, algo que levou Aldo a apelar no tribunal contra o enteado em uma ação que movimentou mais de US$ 13,3 milhões e com acusações de sonegação no valor de US$ 7 milhões em impostos.
Com o falecimento de Rodolfo, em 1983, Maurizio, seu filho, acabou herdando a parte do pai e deu início a uma tentativa de assumir o controle de todo o negócio Gucci. Acusado de ter falsificado a assinatura de Rodolfo e condenado por driblar a arrecadação da Receita Federal, Maurizio fugiu para a Suíça, mas acabou sendo inocentado de todas as sentenças. Seu grande momento ocorreu apenas 6 anos depois, quando a marca foi adquirida pelo grupo Investcorp — 50% do valor comprado — e o oficializou como presidente da grife, confirmando a total bagunça familiar que havia-se tornado.
Ao longo de sua trajetória à frente da Gucci, Maurizio enfrentou problemas com seu tio Aldo e investidores, tendo dificuldade em revitalizar uma marca para o antigo cenário das elites, sem saber que a maior complicação de sua vida estaria na própria casa: a esposa milanesa Patrizia Reggiani, com quem era casado desde 1972. A socialite italiana vivia uma vida de luxo com Gucci e era a principal assessora nos negócios, mas acabou sendo deixada de lado após ele herdar o patrimônio do pai. Em 1990, o divórcio foi oficializado.
Em 27 de março de 1995, Maurizio foi morto a tiros em frente a seu escritório em Milão, aos 46 anos, quando já havia vendido sua parte da Gucci, encerrando o envolvimento da família com a marca. Por quase 2 anos, a identidade do assassino de Maurizio permaneceu um mistério, até que foi revelado que sua ex-esposa, Patrizia Reggiani, foi a mandante do crime, responsável por contratar Benedetto Ceraulo para eliminá-lo.
(Fonte: EPA / Reprodução)
“Eu tenho que admitir que, por um tempo, eu realmente queria me livrar dele. Eu queria fazer isso e então andava pedindo às pessoas que o fizessem, mas minhas intenções terminaram aí — uma mera obsessão, um mero desejo”, disse Reggiani, em entrevista à Storie Maledette. “Que esposa nunca disse: 'Eu mataria aquele cara?'”, ela falou.
Segundo Pina Auriemma, descrita como uma espécie de feiticeira autoproclamada e amiga da acusada, sendo também condenada pelo assassinato, Reggiani não suportava a ideia de ter perdido dinheiro e status social, uma vez que sua pensão de US$ 860 mil foi reduzida pela metade. Além disso, Reggiani guardava uma imensa amargura por Gucci porque ele a "substituiu" por alguém mais jovem (Paolo Franchi). Ela acabou sendo condenada a 29 anos de prisão, mas foi libertada em 2016, após cumprir uma sentença de 18 anos.
Desde 2015, a Gucci é gerida pelo CEO Marco Bizzarri, que trabalha ao lado do diretor criativo Alessandro Michele para elevar a marca como referência novamente, abandonando polêmicas e intrigas, consolidando-se como uma empresa vanguarda de design, moda, luxo e estilo.
Com a introdução de mocassins e inovações, como bolsas com logo pintadas à mão, chinelos forrados de pele e a primeira fragrância unissex (Mémoire d'Une Odeur), a estratégia da companhia é atrair clientes mais jovens e expandir em meio à modernidade, atuando no suporte à sustentabilidade ambiental e em uma coleção que vai muito além dos conceitos de catálogo.