Ciência
04/12/2021 às 10:00•3 min de leitura
Que o racismo acontece de diversas formas, muitas delas invisíveis, nós já sabemos. Ele pode estar escondido no sistema social, naquilo que chamamos de racismo estrutural, mas também nos próprios relatos que temos da história mundial. Por isso, várias pessoas não brancas foram desconsideradas ao longo dos séculos.
Esse tipo de racismo se fundamenta no que pesquisadores chamam de embranquecimento histórico. Trata-se, basicamente, a ideia de associar elementos considerados como próprios de pessoas brancas para representar figuras importantes da história. Entende-se que isso é uma das nuances dos privilégios simbólicos obtidos pelas pessoas brancas, como se elas fossem “normais” em relação a outras raças e cores de pele.
Segundo a professora e pesquisadora Lia Vainer Schucman, autora do livro Entre o Encardido, o Branco e o Branquíssimo: Branquitude, Hierarquia e Poder na cidade de São Paulo, o embranquecimento histórico reflete a associação de "atributos e significados positivos que passam ligados à identidade racial à qual pertencem, tais como inteligência, beleza, educação, progresso etc."
Não por acaso, é comum que as listas de intelectuais mais conhecidos de uma época não contenham pessoas negras — o que revela tanto a desigualdade social histórica quanto o simples apagamento de sua cor de pele.
O caso mais conhecido no Brasil talvez seja o do escritor Machado de Assis, que, hoje se sabe, foi “embranquecido” em fotos tratadas graficamente. Observe nesta imagem:
Machado de Assis. (Fonte: Reprodução/Internet)
Além dele, há vários outros nomes importantes que tiveram sua ancestralidade esquecida ou apagada. Conheça alguns exemplos a seguir.
Concepção artística e histórica da verdadeira aparência de Jesus Cristo. (Fonte: Reprodução)
Historiadores afirmam que, de acordo com o local de nascimento e sua ascendência, é bastante improvável que Jesus tenha sido o homem de cabelos loiros e olhos azuis que costuma ser retratado. O mais provável é que ele tenha tido pele morena e olhos escuros, pois era assim que provavelmente eram os judeus que viviam no Oriente Médio, no século I.
Fotografia de Chiquinha Gonzaga quando criança. (Fonte: Reprodução)
A compositora, pianista e maestrina brasileira Chiquinha Gonzaga era filha de um casal inter-racial: seu pai era branco e sua mãe era negra, filha de uma mulher escravizada. Na minissérie da Globo Chiquinha Gonzaga (1999), a personagem foi representada pelas atrizes Regina Duarte e Gabriela Duarte, ambas brancas.
Fotografia do poeta Gonçalves Dias. (Fonte: Reprodução)
O maranhense Gonçalves Dias, tido como um dos grandes nomes da literatura e poesia brasileira, era filho de um pai português e mãe mestiça, com ascendência indígena e africana. Por ser negro, Gonçalves Dias foi impedido de casar com sua amada.
A ex-primeira dama norte-americana Jacqueline Kennedy. (Fonte: Reprodução)
Embora muita gente fale que Michelle Obama foi a única primeira-dama negra dos Estados Unidos, o fato é que Jackie Kennedy tinha ancestrais negros. Um parente dela ficou conhecido como o primeiro homem negro a se tornar doutor no país, e seu pai era conhecido como “Jack negro” por causa de sua cor de pele. Nas inúmeras adaptações de sua personalidade para o cinema, Jacqueline Kennedy nunca foi retratada mestiça como realmente era.
O ex-presidente brasileiro Nilo Peçanha. (Fonte: Reprodução)
Embora pouco se fale sobre isso, o Brasil já teve um presidente negro. Nilo Peçanha assumiu a Presidência da República entre 1909 e 1910, com o falecimento do então presidente Afonso Pena. Historiadores relatam que suas fotos oficiais como presidente foram embranquecidas. Além disso, sua esposa só pôde se casar com ele após fugir da família, já que eles diziam que Nilo Peçanha era "pobre e mulato".
O galã de cinema norte-americano Clark Gable. (Fonte: Reprodução)
O galã de cinema Clark Gable, estrela do filme ...E o vento levou (1939), era descendente de africanos e dos povos nativos americanos. Conta-se que o ator, ao saber que os banheiros no set do filme eram segregados para pessoas brancas e negras, recusou-se a filmar até que todos fossem tratados de forma igual.